Completando cinco décadas de estrada em 2025, o Saxon continua sendo uma das forças mais resilientes e inspiradoras do heavy metal tradicional. Ícone da chamada New Wave of British Heavy Metal, o grupo liderado por Biff Byford mantém acesa a chama da rebeldia e da criatividade mesmo após tantos álbuns, turnês e mudanças de formação. Prestes a se apresentar no Brasil como uma das atrações principais do Bangers Open Air, o vocalista concedeu uma entrevista repleta de bom humor, memórias marcantes e reflexões sobre o passado, o presente e o futuro da banda.
No papo, Biff fala sobre o novo disco que o Saxon prepara para 2026, comenta o impacto de Brian Tatler (Diamond Head) na atual fase da banda e revela por que Hell, Fire and Damnation, lançado em 2024, é seu álbum favorito do grupo. Entre lembranças das passagens anteriores pelo Brasil, elogios ao público sul-americano e novidades sobre seu projeto paralelo com o filho, o Heavy Water, o cantor reforça o espírito inabalável que sempre guiou o Saxon: “nunca se render”.
Por Marcelo Vieira
Foto: Ned Wakeman / Divulgação
O Saxon é uma das atrações mais aguardadas do Bangers Open Air, no Brasil, agora em maio. O que os fãs brasileiros podem esperar do show?
Vai ser incrível, com certeza. A gente vai mandar ver — vai ser um grande show, com músicas antigas, clássicos que o pessoal gosta, e também algumas faixas mais recentes, como “Hell, Fire and Damnation”, “Sacrifice”… Enfim, um bom apanhado, como costumam dizer por aí.
Vocês já tocaram no Brasil antes. Quais são as suas melhores lembranças dessas passagens por aqui?
Sempre foi ótimo. O público brasileiro é incrível, super empolgado. Acho que isso vale pra muitas bandas, mas para grupos dos anos 1980 como o Saxon, o [Iron] Maiden… é sempre especial. É um público bem variado, tem muita gente jovem, mas também uma galera que nos acompanha desde lá de trás. Então é sempre uma grande experiência tocar no Brasil.
O Saxon já está trabalhando em um novo álbum, previsto para 2026. Em que etapa está o processo de composição?
Estamos agora naquela fase de encaixar minhas letras nas músicas, o que parece fácil, mas não é. Demora bastante. Minha cachorra tá aqui latindo, parece que ela concorda! [Risos.] Diria que estamos com uns 25 ou 30% do álbum pronto até agora.
O que tem te inspirado nesse novo material?
As mesmas coisas de sempre, na verdade. História, acontecimentos da vida… esse tipo de coisa. Minha cachorra continua maluca aqui — deve estar inspirada também!
Depois de tantos álbuns marcantes, como você mantém viva a criatividade e a paixão por compor?
Acho que é um trabalho em equipe. Os caras da banda — os guitarristas [Doug Scarratt e Brian Tatler], o baixista [Nibbs Carter] — me mandam ideias, e a gente vai construindo as músicas aos poucos. O segredo é manter a qualidade sempre alta. A gente se preocupa mais com qualidade do que com quantidade, sabe? Melhor ter uma música excelente do que cinco mais ou menos.
Em 2025, o Saxon completa impressionantes 50 anos de estrada. Como é pra você e pra banda alcançar essa marca?
É muito bom. Quando a gente olha pra trás, foram 45 anos bem intensos. Mas aí você vê outras bandas, como os Rolling Stones ou o Judas Priest, que estão na ativa há ainda mais tempo. Até o Metallica já está na estrada desde 1980, ou seja, também já têm uma longa história. Com o passar dos anos, as bandas vão se aproximando em termos de “idade musical”. Ter um legado e ainda ser relevante hoje em dia é uma coisa muito importante.
Quais são os sentimentos e reflexões que vêm à mente quando você olha para essa trajetória musical?
Claro que ao longo do caminho perdemos alguns integrantes e ganhamos outros — isso sempre mexe com a gente. Mas, ao mesmo tempo, estamos sempre olhando pra frente. E quando você está com os olhos no futuro, tudo fica mais empolgante. A gente nunca fica preso ao passado. Estamos sempre tentando criar algo novo, e isso é recompensador. É emocionante ver que as pessoas continuam curtindo os álbuns que lançamos.
Há planos especiais para celebrar os 50 anos do Saxon em 2025? Um lançamento comemorativo, uma turnê especial…?
Não exatamente. A turnê atual é uma celebração do Wheels of Steel, embora a gente não toque o álbum inteiro nos festivais — só nos shows solo. Mas, sim, estamos celebrando esse disco clássico, então acho que essa é a nossa forma de marcar a data.
Já perguntei isso ao Nigel [Glockler, baterista] uma vez, agora quero ouvir de você: existe algum álbum do Saxon que você gostaria que tivesse recebido mais atenção, vendido melhor ou fosse mais lembrado pelos fãs?
Na verdade, não. Acho que as pessoas escolhem seus álbuns favoritos de forma muito pessoal, e cada um tem sua conexão com determinado momento ou música. Então está tudo bem assim.
Na sua opinião, qual é o maior legado do Saxon após esses 50 anos de estrada?
Sem dúvida, a música. Começamos algo único ali por volta de 1980. Se você escutar nosso segundo álbum, Wheels of Steel, e comparar com álbuns como Killers (1981) ou The Number of the Beast (1982), vai ver que nós e o Maiden iniciamos algo novo e diferente naquela época. Acho que essa atitude de “nunca se render”, esse espírito de resistência que criamos, continua relevante até hoje.
Você considera Wheels of Steel o álbum mais importante da carreira do Saxon?
Na verdade, acho que esse título vai para o Denim and Leather (1981). Ele representou a culminação daquela fase da banda. Além disso, é um álbum e uma música dedicados aos nossos fãs. Então, sim, Denim and Leather marca o fechamento de um ciclo muito importante para a gente.
E musicalmente falando, Denim and Leather é o seu álbum favorito?
Não, meu favorito é Hell, Fire and Damnation. Como eu disse antes, estamos sempre olhando pra frente. Tentamos ao máximo não nos repetir musicalmente, o que é cada vez mais difícil, claro. Mas a ideia é sempre trazer algo novo, diferente, que surpreenda. O Saxon nunca foi uma banda previsível, e é assim que gostamos de ser.
O que o Brian trouxe de novo para o Saxon desde que entrou na banda?
Ele trouxe muita credibilidade. Afinal, está substituindo o Paul Quinn, que é um cara muito querido pelos fãs. Não queríamos colocar um guitarrista novo demais, que ainda tivesse que conquistar seu espaço. O Brian já é conhecido, respeitado, e isso facilita muito. Além disso, ele é um ótimo compositor. A música “Hell, Fire and Damnation”, por exemplo, foi composta por mim e por ele. Ele trouxe bastante coisa boa para a banda.
Falando agora sobre o projeto Heavy Water. Trabalhar com seu filho deve ser uma experiência única. O que você aprendeu com o Seb como músico?
Aprendi a revisitar o passado, musicalmente falando — voltar aos anos 1960 e 1970, que é o que ele fez nas composições do Heavy Water. Foi muito legal ouvir a visão dele sobre os riffs, o estilo de guitarra. Ele trouxe uma energia jovem a um som mais clássico. Gosto muito do Heavy Water, tem músicas excelentes.
E como essa parceria influenciou sua criatividade?
Acho que não influenciou tanto assim. Embora eu toque guitarra e baixo, hoje em dia escrevo pouca música. Prefiro deixar essa parte com os músicos da banda. Com o Seb foi a mesma coisa — ele compôs a maior parte do material. Gosto de trabalhar com músicos porque isso me dá mais liberdade para focar nas melodias, nos arranjos e nas letras.
Existem planos futuros para o Heavy Water? Um novo disco, shows ao vivo — se a agenda do Saxon permitir?
Talvez façamos outro álbum e até alguns shows. Mas no momento está tudo bem corrido. O Seb acabou de entrar em outra banda, uma banda grande. Não posso contar qual é, ainda é segredo, mas ele deve estar bastante ocupado em turnê este ano. Vamos ver como as coisas se desenrolam.
Pra encerrar, qual é a sua mensagem para os fãs brasileiros?
Estamos indo pra aí e sempre adoramos tocar no Brasil. Como dizia o Lemmy: “We’re going to Brazil!” É sempre especial tocar aí e nos outros países da América do Sul. Estamos muito animados. Queremos que todos estejam seguros, curtam bastante. E assim que pousarmos, vou gravar um vídeo pra avisar que chegamos! [Risos.]
O Saxon se apresenta no palco Hot Stage do Bangers Open Air no dia 3 de maio (sábado), das 17h40 às 18h40.
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