ENTREVISTA: Sharlee D’Angelo fala sobre Mercyful Fate, Spiritual Beggars e novo álbum do The Night Flight Orchestra


Leia a Parte 1 da entrevista aqui.

Quando Sharlee D’Angelo (Arch Enemy, ex-Mercyful Fate, Spiritual Beggars) se juntou a Björn Strid e David Andersson, do Soilwork, em 2007 para formar o The Night Flight Orchestra, não havia grandes planos, ambições ou estratégias de carreira. Era apenas um grupo de amigos apaixonados por AOR, disco music e rock setentista, se divertindo entre turnês e gravações de suas outras bandas. O que começou como uma brincadeira nostálgica, no entanto, logo se transformou em algo mais sério — com discos aclamados como Amber Galactic (2017) e Aeromantic (2020), o projeto cresceu até se tornar uma das bandas mais únicas e queridas do rock melódico contemporâneo.

Na segunda parte da entrevista exclusiva, o baixista sueco relembra essa trajetória com bom humor e sinceridade, comenta a dor da perda de Andersson e fala sobre o processo de criação do novo álbum, Give Us the Moon, distribuído no Brasil pela Shinigami Records. Ele também abre o jogo sobre o hiato do Spiritual Beggars, revisita os anos ao lado do Mercyful Fate e reflete sobre o que o mantém motivado depois de tantas décadas na estrada: a conexão com o público e a alegria de fazer música com amigos.


Por Marcelo Vieira

Foto: Divulgação / thenightflightorchestra.com 


Quais eram suas expectativas quando você se juntou a Björn e David em 2007 para formar o The Night Flight Orchestra?

Nenhuma, pra ser honesto. Era só algo que fazíamos quando estávamos juntos, curtindo o momento. Todos nós sempre tivemos uma paixão por esse tipo de música, então começou como uma diversão, algo leve. Mas aí as músicas começaram a soar bem, e a gente queria que outras pessoas ouvissem também. Então decidimos lançar um disco… e, aos poucos, a banda foi conquistando seu público. Mas expectativa mesmo, eu não tinha nenhuma.


Em que momento você percebeu que aquilo tinha deixado de ser só um projeto paralelo e se tornado uma banda de verdade, com futuro?

Não sei se percebi isso até hoje! [Risos.] Quer dizer, claro que levamos a sério, nos dedicamos e damos o nosso melhor. Mas o mais importante pra gente sempre foi a alegria de fazer isso juntos, de curtir a companhia um do outro. Acho que o momento em que caiu a ficha foi com o lançamento do Amber Galactic, nosso terceiro álbum. Ele recebeu críticas incríveis em vários lugares, e aí pensei: “Ok, talvez a gente tenha algo realmente especial aqui”.


Vocês lançaram recentemente o álbum Give Us the Moon. O que pode nos contar sobre esse novo trabalho?

É uma coleção de músicas — e estão todas muito boas! [Risos.]


Como ele se compara aos discos anteriores?

É difícil dizer. Esse álbum foi bem complicado de começar, especialmente porque foi o primeiro sem o David. Perdê-lo foi muito doloroso. [O guitarrista morreu em 14 de setembro de 2022, aos 47 anos. Embora a causa específica da morte não tenha sido revelada, foi revelado que o músico faleceu após uma “breve doença”.] Ele não só era nosso amigo, mas também um compositor extremamente prolífico. Então a pergunta era: “A gente consegue continuar sem ele?” Muita gente achava que não, e nós mesmos não tínhamos certeza. Levou um tempo… Primeiro, precisávamos lidar com o luto. Depois, reunir forças e, pouco a pouco, redescobrir a alegria de tocar juntos. Voltar ao estúdio e criar músicas novamente fez parte do nosso processo de cura. E foi essencial perceber que, apesar de tudo, ainda tínhamos uns aos outros.


Há alguma faixa no álbum inspirada ou dedicada ao David?

Não de forma direta. O disco como um todo não é sobre ele, mas acho que o espírito dele está ali. Várias vezes durante as gravações a gente se perguntava: “O que o David faria aqui?” Era como se, mesmo sem estar presente, ele ainda estivesse guiando a gente.



Falando agora de outra banda sua — qual é a situação atual do Spiritual Beggars? Afinal, no ano que vem completa uma década do álbum Sunrise to Sundown

Ah, não faço ideia. A gente não fala sobre isso há anos. Cada um está envolvido em outras coisas no momento. Nunca diga nunca, claro, mas atualmente não há nenhum plano em andamento. Pergunta de novo daqui a um ano — vai que as coisas mudam. [Risos.]


Você tocou com o Mercyful Fate por seis anos e gravou quatro álbuns de estúdio com a banda. Olhando pra trás, qual foi a lição mais importante dessa fase ao lado de um grupo tão icônico e influente?

Foi minha primeira experiência realmente profissional na música. E foi também a chance de ver o mundo, de perto. Aprendi demais com eles, principalmente porque já tinham muita estrada, eram muito experientes. Eu era totalmente “cru”, então foi como uma aula intensiva. Ao mesmo tempo, foi incrível poder tocar músicas que eu amava — mesmo não sendo a “minha” banda, era uma das minhas favoritas. Poder fazer parte disso foi sensacional.


Você já citou baixistas como Roger Glover, Glenn Hughes, Steve Dawson, Peter Baltes e John Entwistle como grandes influências. Como se sente ao saber que hoje pode haver jovens baixistas dizendo que você é a inspiração deles?

Olha, se alguém realmente disser isso, eu fico extremamente honrado. Seria incrível. Mas minha primeira reação é: “Pô, arruma heróis melhores que eu!” [Risos.]


Depois de tudo o que você já fez na música, o que ainda te motiva a seguir criando, tocando e se reinventando?

É a alegria de estar ali, sabe? O prazer de tocar para pessoas que realmente gostam daquilo. Estar numa sala cheia de gente e ver que sua música faz essas pessoas felizes, isso cria uma conexão. Estamos todos ali porque amamos o mesmo tipo de som — isso é um sentimento de comunidade. E essa troca constante de energia entre banda e plateia… Cara, eu poderia viver disso por anos. É, sem dúvida, a melhor droga que existe.


Adquira Give Us the Moon na loja oficial da Shinigami Records.


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