ENTREVISTA: Loss reflete sobre o fator humano e consolida identidade no metal nacional com “Human Factor”


Com integrantes experientes e raízes profundas na cena do metal mineiro, a banda Loss dá um passo firme em sua trajetória com “Human Factor”, segundo álbum de estúdio que combina peso, brasilidade e reflexões sobre tecnologia e humanidade. Em entrevista a este jornalista, o frontman Marcelo Loss comenta os desafios e aprendizados por trás do novo trabalho, a opção por uma sonoridade crua e direta, as colaborações com nomes de peso, e a importância simbólica de lançar o disco na lendária Woodstock Discos. Com turnê europeia agendada e novo clipe no ar, o trio mostra que está longe de ser uma promessa — é uma realidade reverberante do metal brasileiro contemporâneo.


Por Marcelo Vieira
Fotos: Divulgação


“Human Factor” marca uma clara evolução sonora em relação ao primeiro álbum da banda [“Storm” (2020)]. Quais foram os principais aprendizados nesse processo de amadurecimento musical?

Nós percebemos que houve uma evolução musical da banda, tanto nas composições, que se tornaram mais complexas, quanto na execução. Acredito que foi um processo natural, à medida que fazíamos shows e íamos encontrando o nosso som.


O título sugere uma reflexão sobre a condição humana. Que tipo de mensagem ou sentimento você espera despertar nos ouvintes com esse novo trabalho?

O álbum “Human Factor” aborda diversos temas, mas o principal é a relação do ser humano com máquinas e computadores, além do desafio de lidar com a inteligência artificial de forma responsável e segura. A mensagem que queremos transmitir é que, embora reconheçamos os riscos dessas novas tecnologias, acreditamos no fator humano e em sua capacidade de superação e resiliência.


O álbum carrega um peso emocional e técnico evidente. Houve alguma música dentro do repertório que se revelou particularmente marcante durante as gravações?

Cada música tem sua história e deixa uma marca em nós, enquanto músicos e compositores. Algumas nos desafiam mais musicalmente, outras são mais difíceis de cantar. Destaco duas: “The Mirror”, em que conseguimos incorporar uma influência inusitada de melodias nordestinas, trazendo uma forte dose de brasilidade; e “Leaving”, que soa como uma faixa simples e fluida, mas é bastante complexa na execução, com passagens e tempos desafiadores.




Faixas como “Segredos” e “Deus” exploram o uso do português, ao lado de composições em inglês. Como vocês lidam com a escolha do idioma na hora de escrever e compor? Há um critério específico ou é algo mais intuitivo?

É algo bastante intuitivo. Sempre gostei de escrever letras e criar melodias em português. Como banda que se inspira em mestres do estilo, como Black Sabbath, Led Zeppelin, Deep Purple, Rush, compor em inglês é algo natural. Mas também curtimos a sonoridade do português dentro do som pesado. Por isso, em algumas composições, optamos por um idioma ou outro.


A banda opta por um som orgânico, direto, sem o uso de samples ou teclados, apostando na força do trio guitarra-baixo-bateria. Como isso influencia o processo de composição e arranjo das músicas?

Esse formato nos agrada muito! Tocar em trio é desafiador. Por um lado, oferece liberdade para que cada instrumento tenha seu momento de destaque. Por outro, exige comprometimento total para que tudo soe coeso e potente. Há momentos em que o baixo pode viajar e explorar caminhos diferentes, e outros em que precisa ser direto, em nome do peso que a música pede. Isso, naturalmente, influencia nossa sonoridade no processo de composição.


A participação de músicos como Johnny Herno e Alan Wallace adiciona novas camadas ao disco. Como essas colaborações aconteceram e de que forma elas contribuíram para a atmosfera de faixas como “Novena” e “Reboot”?

Apesar da Loss ser uma banda relativamente nova, somos músicos experientes e estamos na estrada há muitos anos. Valorizamos a proposta do álbum completo, com a história que ele conta e a forma como as faixas se conectam para criar uma unidade. As participações do Alan e do Johnny foram fundamentais para criar esses climas e fortalecer a conexão entre as músicas.


O disco foi mixado e masterizado por Tue Madsen, conhecido por trabalhar com gigantes como Rob Halford e Meshuggah. Como surgiu essa colaboração e o que você acredita que ela trouxe de diferencial para o resultado final?

A presença do Tue Madsen foi essencial para o álbum! Ele é um produtor diferenciado, com reconhecimento internacional no meio musical. Consegue fazer as músicas soarem pesadas e, ao mesmo tempo, cristalinas, com clareza na voz e em cada instrumento. Já havíamos trabalhado com ele na banda Concreto, que fundei e na qual o Teddy [baterista da Loss] tocou por mais de 10 anos. Repetimos a parceria no primeiro EP da Loss [“Let’s Go” (2020)] e agora no álbum “Human Factor”.




Como foi a experiência de lançar o disco na lendária Woodstock Discos em São Paulo e qual a importância de valorizar espaços históricos da música alternativa brasileira?

Aquele dia foi mágico! Lançar um álbum em um templo do rock nacional como a Woodstock foi muito significativo. O Teddy chorou como uma criança! [Risos.] Ele já havia estado lá há uns 30 anos com a banda Witchhammer, uma das pioneiras do metal mineiro, da qual é fundador. Foi realmente emocionante para todos nós.


Como já dito, o Loss é formado por músicos com uma trajetória concreta e diversa dentro do cenário musical brasileiro. Como essas diferentes bagagens pessoais se encontram e se equilibram na construção da identidade da banda?

Acho que essa bagagem é o nosso diferencial e ponto forte. Estive à frente da banda Concreto por mais de 20 anos, o Teddy é uma figura marcante na cena pioneira do metal mineiro dos anos 1980, e o Adriano é um cara que teve suas bandas e tocou com músicos de vários estilos, incluindo rap e hip hop. Essas experiências enriquecem a criação do som e da identidade da Loss.


A banda tem suas raízes em Belo Horizonte, uma cidade com um legado importante no metal nacional. Como vocês enxergam a cena atual da capital mineira e que papel a Loss busca desempenhar nesse contexto?

BH sempre foi um polo importante, seja no metal ou em outros estilos, como o Clube da Esquina. Essa diversidade ainda se reflete na música produzida hoje. Vivemos um momento legal na cidade, com boas bandas novas surgindo, além do retorno de bandas lendárias como Overdose e outras formadas por nomes históricos da cena, como a Laws of Scourge do Gegê Minelli (Sarcófago) e a Troops of Doom do Jairo Guedz (ex-Sepultura). Acredito que a Loss representa uma nova geração que reverencia suas raízes e foi forjada nesse cenário.


Para encerrarmos, quais são os próximos passos da Loss? Há planos para videoclipes, novos singles, turnês ou até mesmo projetos paralelos que os fãs já podem aguardar?

Estamos lançando este mês um novo clipe, da música “Deus”. Ele estreou na TV aberta, no programa Leitura Dinâmica da RedeTV, e depois no Roadie Crew Online. Agora está disponível no nosso canal do YouTube. Em outubro, partimos para a nossa segunda turnê europeia, com shows em cidades como Londres, Paris, Amsterdã e outras na Irlanda, Bélgica e Alemanha. Sigam a banda para mais informações e nos vemos na estrada! Vida longa ao metal nacional e ao underground!




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