Embora haja um guia acima, matérias especiais nunca foram o forte deste site. Tampouco costumo derramar minha vida e vivência pessoais naquilo que escrevo, mas a morte de Ozzy Osbourne, na última terça-feira (21), aos 76 anos, me fez querer compartilhar com meus leitores uma lista de 10 músicas da carreira solo dele que, na minha opinião, valem ser ouvidas, apreciadas e, por que não, postas em pé de igualdade com “Crazy Train”, “Mr. Crowley”, “Bark at the Moon” e tantas outras que moldaram o caráter musical de muitos headbangers.
Em tempo: esta lista tem como critério, pura e simplesmente, o meu gosto pessoal. Portanto, não faltou nenhuma, tá? Se discordar, faça a sua.
1. “Hero”
do álbum “No Rest for the Wicked” (1988)
Às favas com a ordem cronológica. Minha lista, minhas regras — e abro com a minha música favorita da carreira solo de Ozzy, uma faixa escondida (hidden track) no disco que marcou o início da duradoura parceria com Zakk Wylde na guitarra. Se em “I Don’t Know” (de “Blizzard of Ozz”, 1980) Ozzy dizia às pessoas para pararem de olhar para ele como alguém que pudesse ter as respostas para suas angústias, em “Hero” ele deixa ainda mais claro que não deseja assumir esse papel, expressando um medo profundo de decepcionar aqueles que depositam suas esperanças nele. Mal sabia ele que esse risco sempre foi inexistente.
https://youtu.be/IPIPuxaOkUA?si=SyNjQ2a1fCboChYL
2. “You Looking at Me, Looking at You”
do single “Crazy Train” (1980)
Como essa música — cujo riff é um dos melhores atestados da genialidade de Randy Rhoads — foi relegada ao lado B de single e só reivindicou seu posto na tracklist de “Blizzard of Ozz” (1980) em relançamentos posteriores, é um mistério.
https://youtu.be/iD8AEKMhTf4?si=ZZ2pDlCTcHurdECC
3. “Waiting for Darkness”
do álbum “Bark at the Moon” (1983)
Não faltam por aí críticos de “Bark at the Moon”, amplamente considerado um disco de uma música só (a faixa-título). Idiotas. O terceiro disco solo de Ozzy sofre, sim, com a produção — que disco, naquela época de transição do analógico para o digital, não sofre um pouco com isso? —, mas, em matéria de repertório, é coisa de louco. Que o diga “Waiting for Darkness”, construída a partir de um riff de teclado e na qual o instrumento, tocado por Don Airey, assume total protagonismo. Quem assina a letra, sobre a hipocrisia das religiões organizadas, é o baixista Bob Daisley.
https://youtu.be/rrkHcTPbpZY?si=C5faHJQiXq7Q_lcy
4. “Killer of Giants”
do álbum “The Ultimate Sin” (1986)
A música da qual o guitarrista Jake E. Lee mais se orgulha entre as que compôs com Ozzy, segundo ele mesmo — que, em outra ocasião, a definiu como provavelmente sua “maior conquista”. The Ultimate Sin é o disco “glam metal” de Ozzy por excelência, mas “Killer of Giants” destoa — neste caso, para o bem — tanto no arranjo quanto na letra, que trata do medo da eclosão de uma guerra nuclear. “If the button is pushed, there’ll be nowhere to run” (“Se o botão for apertado, não haverá para onde correr”) é talvez o verso mais atual da sua discografia.
https://youtu.be/03hGi0_r0xc?si=e61PS7gZezK8phCb
5. “Fire in the Sky”
do álbum “No Rest for the Wicked” (1988)
A galeria temática de “No Rest for the Wicked” é bem abrangente: vai desde ataques diretos ao televangelista Jimmy Swaggart (“Miracle Man”) até referências aos assassinatos cometidos pela Família Manson (“Bloodbath in Paradise”). A história de um homem com infância conturbada — e que a usa como justificativa para suas selvagerias depois de velho —, “Fire in the Sky” tem contornos autobiográficos inegáveis. A interpretação de Ozzy faz jus à urgência e ao desespero da letra, sobretudo no refrão. E quer saber de onde o Alice in Chains tirou a base para “Love, Hate, Love”? Preste atenção a partir de 04:45.
https://youtu.be/FlCoc_OismQ?si=qIV0AUfSkE0-asuZ
6. “Desire”
do álbum “No More Tears” (1991)
Em tempos remotos, quando este jornalista fazia um extra como DJ em uma já extinta festa especializada em hard rock, essa era a música de Ozzy a ser tocada para agitar a galera boa de copo que frequentava os redutos nem sempre bem-frequentados do submundo carioca.
https://youtu.be/6-bgU8GzhiE?si=CmBLyEzkDrpHQ7ib
7. “S.I.N.”
do álbum “No More Tears” (1991)
Também conhecida como “Won’t Be Coming Home (S.I.N.)”, a faixa 6 de “No More Tears” lida com paranoias. Raramente Ozzy soou tão enfático em relação a esse efeito comum do abuso de drogas — e tão vulnerável a ponto de pedir, quase em súplica: “I can’t make it alone / Don’t leave me on my own tonight” (“Não consigo sozinho / Não me deixe sozinho esta noite”).
https://youtu.be/7_o55_zsrQk?si=nnjMxvHNrCetTFdo
8. “My Little Man”
do álbum “Ozzmosis” (1995)
Depois que virei pai, passei a entender com total clareza músicas que artistas compõem para os filhos. Não se sabe se “My Little Man”, fruto de parceria com Steve Vai — supostamente escalado para tocar em “Ozzmosis” antes de ele e Ozzy romperem —, é sobre Jack ou Louis especificamente, mas a mensagem é a de um pai que sabe que não poderá estar para sempre ao lado dos filhos, mas ainda assim deseja protegê-los. Seu espírito, diz ele, sempre estará ali, velando por eles.
https://youtu.be/wAB1astnNr4?si=0CtuCFBj598Ji80C
9. “All My Life”
do álbum “Ordinary Man” (2020)
Como Ozzy foi diagnosticado com Mal de Parkinson em 2019, “Ordinary Man” chegou ao público com o peso de possível — e até provável — último disco de sua carreira. Daí a quantidade de músicas em tom reflexivo e de agradecimento. “Under the Graveyard” e a faixa-título dão conta da proposta, mas “All My Life” talvez seja a mais pessoal e intransferível de todas, ao trazer à luz o jovem Ozzy, percebendo que terá um futuro sombrio, e perguntando a si mesmo como ainda pode estar vivo.
https://youtu.be/nkNkBQJ3clQ?si=rBR_8qU0kSUIRS4r
10. “One of Those Days”
do álbum “Patient No. 9” (2022)
O elenco estelar confere a “Patient No. 9” um clima de “festa da firma” que não poderia ser mais equivocado — ao menos se a amostra analisada for esta faixa com participação de Eric Clapton. O próprio Clapton demonstrou hesitação quanto à letra, que fala sobre perdas temporárias de fé em Deus, mas Ozzy fez questão de explicar que isso é meio que esperado quando o mundo — seja o seu ou o que vivemos — está de pernas pro ar. E contra todas as probabilidades — como exemplifica o verso “Killing myself but I never die” (“Me matando, mas nunca morro”) — Ozzy sobreviveu até os 76 anos.
https://youtu.be/N7FKAhIVD80?si=bEXByxyBa2lFbDi6
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