ENTREVISTA: Johnny Gioeli promete grande reencontro com toda a sua história em São Paulo

 


  • Entrevista também disponível em vídeo. Assista aqui.


Poucos vocalistas do hard rock contemporâneo têm uma trajetória tão versátil e duradoura quanto Johnny Gioeli. Seja à frente do Hardline, como parceiro de longa data do guitarrista Axel Rudi Pell ou como voz marcante do Crush 40 — conhecido pelos temas dos jogos da franquia Sonic the Hedgehog —, Gioeli construiu uma carreira sólida, respeitada e repleta de fases distintas que continuam a conquistar diferentes gerações de fãs.

Às vésperas de retornar ao Brasil para um show único em São Paulo, o cantor conversou com exclusividade com este jornalista. De forma descontraída e apaixonada, falou sobre suas memórias da primeira passagem pelo país, os desafios de montar um setlist que represente toda a sua história, as colaborações mais marcantes da carreira, o impacto do streaming no cenário atual e sua motivação contínua para subir aos palcos. “Vamos fazer o público feliz hoje” é o lema que ele repete antes de cada apresentação — e, pelo que ele promete, não será diferente no Brasil.


Por Marcelo Vieira

Foto: johnnygioeliofficial.netlify.app


Show no Brasil: “Vai ser tipo assar um bolão musical — mistura tudo e serve!”

Você esteve no Brasil alguns anos atrás e agora retorna para um show único em São Paulo. Que lembranças guarda daquela última visita?

Foi minha primeira vez na América do Sul — só isso já foi insano pra mim, porque eu sempre quis conhecer. Quando vi aquele público lotando o local e pronto para um show de rock, saí de lá impressionado. Desde então, já estive na América do Sul mais duas vezes, inclusive com o Crush 40, em Santiago. Acabei de fazer outro show lá com as músicas do projeto. A quantidade de fãs incríveis de rock nesse continente é absurda. E posso dizer que dessa vez vai ser ainda melhor.


Sua carreira passa por diferentes fases e públicos. Como montar um setlist que agrade a todos eles?

Essa é uma ótima pergunta. E, cara, às vezes não é fácil. Tenho fãs do Crush 40, do Axel Rudi Pell, do Hardline, do meu disco solo… Mas, desta vez em São Paulo, vamos com banda completa no palco, e o meu set — que começa às 21h — vai cobrir todas essas fases. Teremos músicas do Axel, do Crush 40, do Hardline. É como se fosse um combo gigante, tipo aqueles lanches tamanho família do McDonald’s. Vai ter de tudo. Quero agradar todo mundo que acompanha minha carreira, proporcionar a eles um verdadeiro reencontro musical com tudo o que fiz até aqui.


Você costuma incluir faixas menos óbvias ou favoritas dos fãs que nem sempre aparecem nos setlists?

Claro que os clássicos têm que estar no repertório. Se eu fizer um show sem tocar “Hot Cherie”, do Hardline, os fãs me matam! [Risos.] Mas música é sentimento. Eu escolho também aquelas que me fazem bem ao cantar, que me empolgam, e que eu sei que os fãs vão sentir essa energia. Então é um equilíbrio entre aquilo que o público espera e o que eu mais gosto de apresentar ao vivo.


Tem alguma música que você gostaria de tocar, mas pensa: “ah, essa é muito lado B”?

Cara, sinceramente? Não. E desculpa pela interrupção — enquanto falamos aqui, estou recebendo milhares de ligações. Mas respondendo com honestidade, como sempre faço: não tem nenhuma música que eu deteste tocar, nenhuma que me faça pensar “putz, odeio essa” ou “não aguento mais aquele álbum”. Eu amo tudo o que fiz, sou orgulhoso de cada fase. Então o setlist será mesmo um passeio histórico por toda essa trajetória. Vamos agradar tanto os fãs do Double Eclipse de 1992 quanto os adolescentes de 16, 17 anos que cresceram ouvindo Crush 40. Vai ser tipo assar um bolão musical — mistura tudo e serve!


Vai conseguir explorar um pouco do país desta vez?

Nunca consigo! É sempre bate e volta. Depois do show já volto pra Europa, porque estou trabalhando em um novo álbum com o Axel Rudi Pell — ele está compondo agora e eu vou gravar os vocais em setembro. Também estamos escrevendo um novo disco do Hardline, que sai em abril, e ainda tenho turnê com o Axel no mesmo mês. Cara, estou com a agenda lotada até 2027, graças a Deus. Não estou reclamando, mas não dá tempo de ser turista. No Brasil, vou ver a sala de ensaio, o quarto do hotel, a sala do café da manhã e o palco do rock — só isso!



Hardline: “O início e o ponto alto da minha carreira.”

Vamos falar um pouco sobre sua carreira. O Double Eclipse continua sendo celebrado até hoje. Como você vê o legado desse álbum mais de 30 anos depois?

É surreal pensar que já se passaram mais de 30 anos. Tocar aquelas músicas ao vivo ainda é tão empolgante quanto era lá atrás. Double Eclipse foi o início e o ponto alto da minha carreira. É impressionante como as pessoas ainda se lembram desse disco — e mais: ele continua cativando novos fãs, que o descobrem agora e o veem como algo totalmente novo. Então, pra mim, tocar essas músicas hoje ainda é uma experiência fresca e cheia de emoção.


Se tivesse que escolher uma faixa do Double Eclipse para apresentar o Hardline a alguém que nunca ouviu, qual seria?

Rhythm From a Red Car, com certeza. Todo mundo adora Hot Cherie, claro, porque foi hit de parada e tudo mais. Mas ao vivo, se você quiser entender o que o Hardline realmente representa, é Rhythm From a Red Car que entrega tudo. Eu ainda me empolgo como uma criança só de ver essa música no setlist.


O Hardline tem lançado álbuns com frequência nos últimos anos. Como tem sido manter a banda viva com uma formação diferente e um som mais moderno?

Tem sido um desafio, sim, porque todo mundo sempre volta ao primeiro álbum, o Double Eclipse, e eu entendo — é um clássico. Mas essa formação atual já está junta há mais de 10 anos, com vários álbuns lançados. A minha voz continua sendo a mesma, sou eu quem canta, mas músicos diferentes naturalmente trazem um som diferente. Às vezes ouço gente dizendo “ah, não soa como o Hardline”. Mas não precisa soar igual. Estou levando adiante o legado de algo que é meu — foi um parto, cara! Doeu, mas nasceu. E quero continuar honrando esse nome. Claro que Double Eclipse é sempre uma referência, mas quem é fã de Hardline está com a gente desde o começo e ainda está aqui.


Fora o Double Eclipse, tem algum outro álbum do Hardline que seja especialmente marcante para você?

Ótima pergunta. Esse álbum é o Leaving the End Open. É, provavelmente, o meu disco mais profundo em termos de letras. Coloquei muito sentimento nele, foi quase uma catarse. Tem músicas muito especiais, como a própria faixa-título. Com certeza é um álbum que se destaca.



Axel Rudi Pell: “A gente sabe o que os fãs gostam e nos mantemos fiéis a isso.”

Sua parceria com Axel Rudi Pell é uma das mais duradouras do hard rock. Qual o segredo dessa longevidade?

A gente se odeia e mantém um segurança entre nós pra não saírem faíscas… [Risos.] Brincadeira! Somos uma família, de verdade. Já são 27 anos juntos, talvez uns 30 álbuns, contando tributos, discos de baladas, essas coisas. O segredo é que somos muito honestos um com o outro. É como um casamento longo: você aprende a respeitar, a entender os limites. Por exemplo, sei que não posso falar com o Volker (baixista) antes do café. Eu pulo da cama cheio de energia, já animado, e ele me olha tipo “espera aí!”. A gente se conhece bem e sabe como lidar — por isso funciona.


E como vocês definem o rumo musical de cada disco? Você participa da composição ou foca mais na interpretação?

No caso do Axel Rudi Pell, ele compõe tudo — letras e músicas. Mas ele já escreve imaginando como vai soar na minha voz. Ele me conhece, sabe o que espera de mim vocalmente. Às vezes dizem: “nossa, os discos soam todos parecidos”. Mas, cara, é como os álbuns do AC/DC — todos têm aquela identidade. A gente sabe o que os fãs gostam e nos mantemos fiéis a isso.


Como é o processo de gravação hoje em dia? Ainda rolam surpresas no estúdio?

O Axel comanda o barco. Ele grava tudo, cria uma guia vocal básica, às vezes até engraçada, e depois me manda. Eu pego aquilo e coloco minha alma na interpretação. Trabalhamos muito por chamada de vídeo — ele na Alemanha, eu em algum canto do mundo — e vamos ajustando frase por frase. Ele diz “tenta isso”, “experimenta aquilo”. É um trabalho bem colaborativo, mesmo à distância.


Entre tantos álbuns com Axel, existe algum que seja o mais especial pra você?

Sim: Oceans of Time, o primeiro que gravei com ele. Tem algo mágico naquele disco. Talvez por ter sido o início da parceria. Lembro de ter gravado na Alemanha, sozinho no estúdio, controlando tudo — sou meio controlador com isso. Pedi pro pessoal sair, deixar só eu com o microfone. Quando eles voltaram e ouviram, foi tipo: “uau!”. Foi intenso, senti mesmo.



Projetos paralelos: “Não me considero um rockstar — sou um músico.”

Você lançou trabalhos solo e em parceria, como o projeto Gioeli-Castronovo. Há planos de continuar com esse tipo de colaboração?

No momento, não. Adoraríamos, mas o Dean está super ocupado com o Journey, e eu com o Hardline — disco novo, turnê sendo anunciada, festivais até 2027. Falo com o Dean o tempo todo, ele está ótimo. A gente ama aquele álbum que fizemos. Foi matador. Mas, por enquanto, não dá. Quem sabe mais pra frente.


Muita gente te conheceu pelas músicas dos jogos do Sonic. Como foi ter sua voz eternizada num universo tão diferente?

Foi uma loucura. No começo, eu pensava nisso como trilha de filme — “vou escrever música pra um game, mas penso como se fosse cinema”. Só depois, com o Sonic Adventure 2 e Live and Learn (tenho até tatuada no braço), percebi o impacto. Aquela música virou hino no mundo dos games. Descobri uma comunidade enorme de fãs, e chamo de comunidade porque é mesmo uma família. Toquei no Chile recentemente e o público cantou cada palavra. Fico impressionado. Isso começou em 1998, na mesma época que minha parceria com o Axel. Esses fãs são incríveis. Em São Paulo, vou ficar com eles depois do show. Quero celebrar a música junto. Não me considero um rockstar — sou um músico. E respeito demais quem me acompanha.


Você é um dos principais artistas da Frontiers Records… 

Era.


Era?

Isso mesmo. Agora estou com a SPV/Steamhammer. O novo álbum do Hardline sai por lá. Não estou mais com a Frontiers, e prefiro nem entrar nesse assunto, sinceramente. Estou seguindo em frente — pra cima!



O cenário musical atual: “O streaming democratizou a música.”

Você acompanha bandas novas de hard rock melódico ou AOR?

Rapaz… não! [Risos.] Estava com uns amigos na montanha e perguntaram o que eu escuto no carro. E eu não ouço rock, acredita? Em casa ou no carro, é smooth jazz. Sempre me afastei de influências externas pra manter minha identidade. Nunca tive coleção de discos. Nada. Meus amigos dizem “tenho mil CDs”. Eu? Nenhum. Não queria parecer com ninguém — nem Bon Jovi, nem Dio. Queria soar como eu. Hoje fico meio perdido nesse novo cenário. É diferente. Confesso que me dá um pouco de medo.


E como você vê o impacto do streaming na música, especialmente para artistas de hard rock?

Sabia que isso ia acontecer, cara. Já imaginava que comprar discos se tornaria algo raro. Antes, só dava pra ouvir música indo até uma loja. Hoje, até países com menos acesso têm internet e podem descobrir qualquer som. Eu adoro isso. Alguns músicos reclamam porque, com 10 dólares, alguém escuta tudo no Spotify. Mas, pra mim, o mais importante é a música chegar a cada cantinho do planeta. Isso vale mais que dinheiro. O streaming democratizou a música.


Para encerrarmos, o que te motiva a continuar gravando e subindo no palco?

Meu espanto genuíno com o processo criativo. Sou um cara de fé, e sempre que termino um álbum, agradeço a Deus. Fico pensando: “de onde veio isso tudo?”. Não é arrogância — é gratidão mesmo. As ideias continuam surgindo, os fãs continuam pedindo. O dia que vocês disserem “Johnny, já deu, sua voz mudou, não está mais legal”, eu paro. Vou pescar. Não quero ser aquele cara que insiste até os 80 anos mesmo sem conseguir cantar. Faço isso porque amo e porque ainda tenho energia. Quero ver as pessoas felizes. Em cada show, digo à banda: “vamos fazer o público feliz hoje”. É isso que me move.



Serviço – Hard N’ Heavy Party

Atrações: Eclipse e Johnny Gioeli

Data: 30 de agosto (sábado)

Abertura: 20h

Showtime: 21h

Local: Manifesto Bar

Endereço: Rua Ramos Batista 207 – Vila Olimpia

Ingressos antecipados: https://meaple.com.br/hardnheavy/hnh-party-apresenta-eclipse-johnny-gioeli


INGRESSOS

Pista:

R$ 600,00 (Inteira) | R$ 300,00 (Meia-Estudante)

R$ 350,00 (Promocional, 1 KG de alimento não perecível)

Camarote:

R$ 800,00 (Inteira) | R$ 400,00 (Meia-Estudante)


Mais informações:

https://www.instagram.com/hard_n_heavy_party

https://www.instagram.com/manifestobar/


Comentários