ENTREVISTA: Doug Aldrich fala sobre o novo álbum do The Dead Daisies e relembra histórias com Dio, Whitesnake, Kiss e outros
Doug Aldrich vive um momento especial com o The Dead Daisies, que acaba de lançar “Lookin’ for Trouble”, um álbum que nasceu de sessões descontraídas no lendário FAME Studios, em Muscle Shoals (EUA). Gravado praticamente ao vivo, o disco é uma celebração das raízes do blues, repleto de releituras espontâneas de clássicos que capturam a energia do quarteto em seu estado mais natural. Na entrevista a seguir, o guitarrista revela como a química entre os integrantes transformou simples improvisos em um trabalho que já figura nas paradas de blues e rock ao redor do mundo.
Mas Aldrich não vive só do presente. Ele revisita com orgulho toda a sua trajetória: do teste para o Kiss ainda adolescente ao Lion e ao Bad Moon Rising; das passagens por House of Lords e Hurricane às parcerias inesquecíveis com Ronnie James Dio no Dio e David Coverdale no Whitesnake. Entre memórias de estúdio, histórias de turnê e planos para retornar à América do Sul, o músico reafirma sua paixão pelo palco e pela criação musical, provando por que é um dos guitarristas mais respeitados do hard rock contemporâneo.
Por Marcelo Vieira
O álbum “Lookin’ for Trouble” tem uma pegada espontânea, como se vocês estivessem brincando no estúdio e, de repente, tivessem um disco completo nas mãos. Foi assim mesmo ou era um projeto mais estruturado desde o início?
Nada disso. A gente estava só improvisando mesmo. Gravamos tudo ao vivo. Fomos para Muscle Shoals, no Alabama, com a intenção de compor algumas músicas. Levamos a Sarah Tomek, uma baterista incrível que já tocou com o Steven Tyler e vários outros artistas. A ideia era escrever e registrar ideias. Já tínhamos algumas coisas em mente e queríamos trabalhar em um ambiente novo. Por isso escolhemos os estúdios FAME, lá em Muscle Shoals. Passamos um tempo por lá, rolou uma química boa, e começamos a escrever bastante. Depois, começamos a brincar com alguns clássicos do blues, dando a nossa cara a eles. Foi uma experiência muito legal. Nada forçado, sabe? A intenção era capturar o momento, manter tudo real.
E como foi a escolha das músicas?
A gente simplesmente conversou sobre músicas que curtíamos. Cada um trouxe algumas ideias. “Black Betty”, por exemplo, surgiu mais de uma vez nas conversas. Aí ouvimos a versão do Ram Jam e pensamos: “Vamos fazer algo diferente, algo nosso”. Foi bem mais divertido assim. Algumas pessoas até disseram que preferem a versão do Ram Jam, o que é legal, mas a nossa tem uma pegada distinta. Queríamos dar uma vibe mais texana, porque a versão do Ram Jam é mais rock do que blues, né? Então decidimos resgatar um pouco da essência da música original, que foi composta pelo Lead Belly como um hino blues — algo que ele cantava enquanto trabalhava. O John sugeriu, eu criei o riff, a Sarah trouxe a batida, e, junto com o Michael, demos forma à música toda.
Com “Going Down”, seguimos numa linha mais pesada, com riffs diretos e secos, no estilo Dead Daisies mesmo. Eu tinha mencionado que adoro “The Thrill Is Gone”, mas queríamos experimentar algo diferente, então mudamos o tempo e o compasso da música, dando um ar mais melancólico. Gravamos em um take só, cara! Um take só de guitarra. Depois só corrigi alguns detalhes. Dá até pra ouvir umas partes meio fora de afinação, porque não era para ser uma gravação definitiva — a gente só estava se divertindo. Mas rolou tanta coisa legal naquele momento que pensei: “Nunca mais vou tocar isso do mesmo jeito”. Então deixamos o primeiro take mesmo.
Vocês lançaram o documentário “Lookin’ for Trouble” no YouTube. Como foi refletir diante das câmeras sobre o legado desses clássicos do blues?
Foi uma oportunidade de relembrar o tempo no estúdio e refletir sobre essas músicas. O John foi quem mais falou no documentário — ele comentou sobre os grandes nomes do blues: os “Kings”, Muddy Waters, Robert Johnson, John Lee Hooker… tantos outros que nem conseguimos citar todos. Foi legal poder falar um pouco sobre o significado dessas canções pra gente.
Mas, sendo honesto, os músicos que influenciaram a minha formação não foram o Freddie King, o Albert King ou o próprio Robert Johnson. Eu cresci ouvindo Led Zeppelin, Aerosmith, Rolling Stones… e esses caras, por sua vez, cresceram ouvindo os mestres do blues. Então foi como fechar um ciclo: voltar às raízes dos nossos próprios ídolos.
Como guitarrista, qual foi o maior desafio em reinterpretar os solos de blues sem perder sua identidade?
Me pediram para entrar totalmente na vibe. Não era para usar o meu estilo habitual, que é mais voltado para o rock. Claro que eu toco blues — e gosto —, mas não é o meu “modo automático”. Então, sim, rolou uma certa pressão, porque eu não tinha ideias pré-concebidas. De novo: não era para ser um disco. Começamos aquilo só por diversão. Em algum momento, no fim do ano passado, alguém falou: “Ei, isso ficou legal, vamos lançar”.
E tem sido divertido tocar essas músicas ao vivo. Tocamos “Going Down”, “Crossroads”, estamos preparando “Black Betty”, já fizemos “Boom Boom” nos shows… É algo diferente para incluir no setlist.
O FAME Studios é um lugar histórico do soul e do blues. O ambiente influenciou o resultado final?
Com certeza. Se não estivéssemos lá, o disco provavelmente nem teria acontecido. A história que aquele estúdio carrega é absurda. Aretha Franklin, Etta James… todos esses nomes lendários passaram por ali. Durante nossa estadia, o estúdio promovia tours diários, então a gente ouvia histórias incríveis sobre aquelas gravações históricas.
Aquilo nos inspirou. Não teria sido igual em nenhum outro lugar. Foi uma feliz coincidência termos escolhido gravar ali. Muscle Shoals fica no Alabama, pertinho da fronteira com o Mississippi, no sul dos Estados Unidos. E essa região toda é carregada de história e lendas do blues: pactos com o diabo, brigas passionais, traições… É dessas histórias que nascem músicas como “Mean Woman Blues”. Alguém teve o coração partido e escreveu uma música sobre isso. Foi um projeto acidental, mas muito especial.
Você mencionou que a maioria das gravações foi ao vivo no estúdio. Houve algum overdub ou toque de produção?
Não teve overdub. O John gravou vários vocais ao vivo mesmo, e o que você ouve no disco é basicamente o que rolou no estúdio. Em algumas faixas, ele ainda estava pegando o jeito na hora de cantar, porque o processo era assim: escolhia-se uma música, a gente desmontava, tocava de jeitos diferentes até encontrar o arranjo certo. O John lia a letra e ia cantando junto.
No último dia de gravação, precisávamos fechar 10 músicas, então registramos “Sweet Home Chicago” sem vocal mesmo. “Little Red Rooster” também, que por sinal eu adoro. Mas todos os instrumentos — guitarra, baixo e bateria — foram gravados ao vivo.
E como tem sido a resposta dos fãs até agora?
Eles estão curtindo muito. O apoio tem sido incrível. Estamos tocando em várias rádios pelo mundo. No Reino Unido e na Alemanha, por exemplo, o álbum ficou entre os dez mais nas paradas de blues e rock. Diria que 90% das resenhas foram positivas. Sempre tem alguém que pergunta: “Por que fazer um disco de blues?”, “Por que não fazer algo mais pesado?”. Mas, sinceramente, a gente faz o que acha que vai soar bem e empolgar os fãs.
Esse disco é diferente. É uma chance de ouvir o John cantando clássicos do blues, e ficou demais.
Há planos para uma turnê sul-americana com esse novo álbum?
Cara, não sei se especificamente com esse disco, mas uma coisa é certa: eu vou voltar à América do Sul. Nem que eu tenha que arrastar os caras comigo! Já faz uns oito anos desde a última vez, e os fãs daí estão entre os melhores do mundo — e alguns dos melhores músicos [são daí] também. Me desculpem por essa ausência, mas a gente vai voltar, com certeza.
Você já veio ao Brasil algumas vezes. O que mais te marcou nas experiências com o público brasileiro?
O Brasil sempre teve um público muito caloroso. Tive a oportunidade de ir algumas vezes com o Whitesnake e também com o Dead Daisies. Com o Whitesnake, abrimos shows para o Judas Priest e para o Aerosmith — foram apresentações incríveis, gigantes. Com o Dead Daisies, fizemos um show grande em São Paulo, mas também tocamos em casas menores que foram igualmente fantásticas. Os fãs são incríveis. É sempre uma honra tocar aí. Já passou da hora de voltarmos.
O Whitesnake abrindo para o Judas Priest, há exatos 20 anos, no Rio de Janeiro, foi o primeiro show da minha vida.
Sério? Eu lembro desse show. Foi demais. E posso dizer uma coisa: o Judas Priest é uma daquelas bandas com quem é um privilégio sair em turnê. Já toquei com eles tanto com o Whitesnake quanto com o Dead Daisies. E eles são, de longe, os caras mais legais que você pode encontrar — desde o Rob até toda a equipe. São uma verdadeira família. E com o Dead Daisies também é assim. A gente viaja, come, convive junto. Tem banda que, assim que chega no hotel, cada um vai pro seu lado. Com a gente não é assim. A gente toma café da manhã junto, janta junto. É realmente uma família. E o pessoal do Priest é de classe A, tanto os músicos quanto a equipe.
Fora o Dead Daisies, você está envolvido em outros projetos atualmente?
Tem surgido algumas sessões antigas que gravei há anos e que agora o pessoal está começando a lançar. Tem um projeto de heavy metal chamado Sign of the Wolf, se não me engano, que acabou vindo à tona agora. Mas, desde que o Glenn Hughes entrou na banda, decidi me dedicar 100% ao Dead Daisies. A banda merecia esse foco total — e o Glenn também precisava de apoio. Então resolvi estar completamente presente.
Queria te fazer algumas perguntas sobre sua trajetória. Pode ser?
Claro!
Você fez um teste para entrar no Kiss em 1982. O que você tirou dessa experiência, ainda tão no início da carreira?
Na verdade, nem dava para chamar de carreira ainda. Eu estava só me divertindo. Tinha acabado de fazer 18 anos quando fui para Los Angeles. Comecei a tocar em bares e, em questão de semanas, já estava me enturmando. Naquela época, você encontrava anúncios de bandas procurando músicos em jornais locais ou até em murais de lojas de instrumentos — tipo uma foto da banda e tirinhas com número de telefone para você arrancar.
Conheci alguns caras, montamos uma banda e começamos a tocar em Hollywood. Foi aí que uma garota, que namorava o Eric Carr, me viu no palco e sugeriu que eu fizesse um teste pro Kiss. Eu nem sabia que eles estavam procurando guitarrista. Mas acabei conhecendo o Eric, ele me viu tocar, gostou, e me levou ao estúdio algumas vezes. Cheguei a gravar umas faixas que estavam trabalhando para [o álbum] “Creatures of the Night” e até ensaiamos juntos — foi surreal. Eu era só um moleque.
Mas o que ficou pra mim dessa história toda foi: “Caramba, talvez eu seja melhor do que achava”. Me deu confiança. Eu estava dando o meu melhor, praticando toda noite, e percebi que aquilo estava valendo a pena.
Mas a vida era bem difícil. Eu não tinha grana nenhuma. Vivia à base de miojo, que custava 10 centavos [de dólar] na época. De vez em quando, me dava ao luxo de comer um hambúrguer na esquina. E o mais engraçado: nem ligava para a fome porque queria ficar magro! [Risos.] Mas eu amava aquilo. E ver os caras do Kiss — que eram superestrelas — de perto foi insano. Uma experiência única.
Depois, durante as gravações com o Lion, você recebeu um convite para entrar no Slaughter, mas decidiu ficar. O que te fez continuar com o Lion?
O Lion foi minha primeira banda de verdade, de estúdio. A gente já tinha gravado o tema de “Transformers – O Filme” (1986) e lançado nosso primeiro álbum [“Dangerous Attraction” (1987)]. Não era aquele som típico de Los Angeles — tinha uma pegada mais europeia, porque o Kal Swan [vocalista] era britânico e trouxe muita influência de Whitesnake, Thin Lizzy, Rainbow… Ele, inclusive, foi quem me apresentou de verdade ao som do Whitesnake. E a gente acreditava muito no nosso trabalho.
Tivemos dificuldades para fechar contrato com gravadora, porque o mercado queria bandas como Guns N’ Roses e Poison, com aquele som mais “LA”. Quando finalmente conseguimos, o contrato era ruim — sem dinheiro para turnê, sem apoio. O que salvou a gente foi o Japão. A gravadora de lá nos levou para fazer uma turnê e deu destaque ao disco. A gente tentou sair desse contrato ruim e gravou “Trouble in Angel City” (1989), já mostrando que estávamos livres.
Nessa época, comecei a receber convites — do Dio, do Slaughter, entre outros. Mas eu não queria abandonar meus irmãos de banda. A gente dividia apartamento, dormia em cima de caixas Marshall que usávamos como móveis. Nossa mesa de cozinha era feita de dois amps com uma tábua em cima. Se rolava show, a casa ficava vazia — a gente levava tudo. Então, se eu aceitasse outro convite, me sentiria traindo os caras. Já tínhamos passado por tanta coisa juntos… E eu amava aquela banda. A gente acreditava que podia dar certo.
No fim, nosso baterista, Mark Edwards, sofreu um acidente de moto e quebrou o pescoço. Hoje ele já anda, mas devagar, e voltou a tocar bateria de leve. Mas, enfim, eu só queria ser leal aos meus amigos. E mesmo as coisas não tendo saído exatamente como eu queria, sou muito grato. Tive uma carreira incrível até agora. Ainda tenho muito para mostrar, muita música para compor e tocar.
Nos anos 1990, você tocou com Bad Moon Rising, House of Lords, Hurricane… parecia uma maratona sem férias. Quais são as lembranças mais fortes dessa fase?
Quando o Mark sofreu o acidente de moto, foi o fim do Lion. Eu e o Kal tínhamos algumas músicas prontas para o próximo álbum, mas ele acabou transformando aquilo num projeto solo — que depois virou o Bad Moon Rising.
Enquanto isso, toquei com o House of Lords, gravei demos, e depois recebi convite do Hurricane, que me ofereceu uma espécie de salário. Gravamos disco [“Slave to the Thrill” (1990), clipes, e aí o álbum do House of Lords [“Sahara” (1990)] começou a andar, me chamaram para a turnê, e fui. Kal me chamou de novo para o projeto que virou o Bad Moon Rising. E eu estava feliz, porque ele é um dos meus amigos mais antigos, junto com o Mark e o Jerry [Best, baixista].
Com o Bad Moon Rising, seguimos até por volta de 1997. Depois, cada um foi para o seu lado. Nessa época, comecei a receber convites direto para gravar e sair em turnê. Era divertido, e também foi quando comecei a ganhar algum dinheiro com música — coisa que naquela época dava mais retorno do que hoje, com os orçamentos de gravação como estão.
Foi um período intenso, sem pausas. Mas eu não queria outra coisa. Gravar, tocar ao vivo — era só isso que importava para mim.
Existe material inédito seu com o Kal Swan que ainda possa ser lançado?
Sim, temos várias coisas que ficaram inacabadas. Quem sabe um dia a gente retome. Antes da pandemia, nos reconectamos. Depois, com a Covid, perdemos o contato por um tempo, mas agora voltamos a nos falar. Tenho saído com ele e com o Mark. O Jerry está tocando com o Mike Tramp, então também tenho falado com ele. Inclusive, jantamos juntos alguns meses atrás — eu, o Mark e o Cal. O Jerry estava na estrada. Mas foi muito bom rever os caras. A gente olha para trás e pensa em tudo que passou… é uma longa jornada até aqui.
Você entrou no Dio na época de “Killing the Dragon”. Algumas faixas já estavam prontas, mas você compôs outras com Ronnie James Dio e Jimmy Bain. Como foi trabalhar com o Ronnie no processo de composição?
Foi incrível. Compus duas músicas com eles: “Scream” e “Along Comes a Spider”. Criei tudo aqui mesmo, neste estúdio. Eu e o Jimmy nos reunimos, e quando cheguei, eles já tinham gravado as baterias de oito músicas. Eu nem sabia se aquele seria o disco inteiro. Mas o Ronnie disse: “Ainda precisamos de mais duas faixas”.
Então começamos a trabalhar nessas oito músicas — guitarras, baixo — enquanto o Ronnie já gravava os vocais. Numa noite, saiu o riff de “Scream”. Praticamente moldamos a música inteira juntos. O mesmo aconteceu com “Along Comes a Spider”, só o solo ainda era incerto. Mostramos as ideias para o Ronnie, ele curtiu e disse: “Vai ficar ótimo”.
Eu até perguntei: “Posso assistir você gravar os vocais de ‘Scream’?”, porque estava muito empolgado com a faixa. Ele respondeu: “Claro, vem na quinta”. E fui. Cara, quando ele cantou, fiquei arrepiado. Foi mágico. “Along Comes a Spider” também ficou incrível, mas “Scream” é minha favorita entre as duas que escrevemos juntos. Deus os abençoe. Sinto muita falta do Ronnie e do Jimmy.
Existe uma história de que “Throw Away Children” seria para um segundo projeto do Hear ‘n Aid, que acabou engavetado. Você lembra de algo sobre isso?
Sim, lembro que o Ronnie mencionou. Ele sempre se preocupava com causas sociais, com caridade. Um dos projetos que ele apoiava ajudava garotas a saírem das ruas — acho que chamava Children of the Night. Era uma iniciativa que realmente ajudava meninas envolvidas com prostituição a se reerguerem: arrumar emprego, largar as drogas, sair daquela vida.
Ele fez o Hear ‘n Aid, claro, e também participava de ações beneficentes organizadas pela Wendy [Dio, esposa]. Durante a gravação de “Throw Away Children”, comentou: “Quero fazer algo com essa música, talvez um novo projeto beneficente, tipo o ‘Stars’, ou algo voltado para crianças abandonadas, negligenciadas”. Isso foi muito antes de todo mundo começar a falar sobre tráfico humano. O Ronnie já enxergava essas questões lá atrás.
A faixa tinha um título muito pesado [“Crianças Descartadas”] e cheio de significado. Tive dificuldade para gravar o solo — tudo soava técnico demais, sem emoção. Até que encontrei uma melodia lenta, carregada de sentimento, que se encaixou com a vibe da música. O Ronnie e o produtor me ajudaram a moldar o final, sugerindo alternar acordes e frases de guitarra. No fim, virou um dos meus solos favoritos do disco.
Depois você entrou no Whitesnake e compôs várias músicas com o David Coverdale. Quais são suas melhores lembranças dessa parceria?
O melhor de tudo era compor. Sabe quantas músicas escrevi com o David? Trinta! Produzimos e escrevemos juntos trinta músicas durante minha passagem na banda. Foram os melhores tempos musicalmente falando, especialmente entre 2006 e 2007, que resultaram no álbum “Good to Be Bad” (2008). David teve alguns problemas legais com a gravadora, mas agora está disponível nos streamings como “Still Good to Be Bad”.
Escrevemos tudo em parceria, 50/50, e também produzimos. Depois saímos em turnê. Até nos arranjos de palco colaboramos — eu e o Reb [Beach, guitarrista] fizemos juntos o solo instrumental “Pistols at Dawn”, por exemplo.
A dinâmica era ótima: eu passava uma semana na casa dele, criávamos ideias, escolhíamos duas e finalizávamos. Fazíamos demos que pareciam discos prontos, com bateria eletrônica, eu gravava o baixo, teclados… Às vezes ele próprio gravava algo.
Lembro de quando mostramos “Good to Be Bad”. Eu disse: “David, tenho esse riff aqui” e comecei a tocar. Ele perguntou: “E pra voz, o que você imagina?”. Respondi: “Tell me, baby, what’s on your mind?” — e ele mandou ver ali mesmo, sentado atrás de mim. Cara, aquele vozeirão me arrepia até hoje.
O Ronnie também veio algumas vezes. Ele tinha o estúdio dele, então eu geralmente ia até lá, mas numa dessas ocasiões ele veio ouvir o que eu estava gravando para “Electra”, a última música que ele registrou. Eu estava super empolgado — deixei tudo pronto: sofá arrumado, Guinness, cinzeiro, almofadas. Trabalhamos juntos naquela noite. Poucos meses depois, ele ficou doente.
Na sua opinião, existe alguma chance de o Whitesnake voltar aos palcos ou os dias de turnê do David já acabaram?
Nunca diga nunca. O David ainda consegue cantar — sem dúvida. Ele já tinha feito uma pausa antes, quando o filho nasceu, lá por 1995, e depois reformou o Whitesnake, foi quando entrei com o Reb, o Marco [Mendoza, baixista], o Tommy [Aldridge, baterista] e o Timothy [Drury, tecladista]. Então, acho possível sim que ele faça algo mais para frente. Talvez uma apresentação especial em Las Vegas ou uma celebração em Londres — tipo o que o Ozzy fez recentemente.
Seria lindo ver uma homenagem ao Whitesnake no Hammersmith, que não é o maior lugar do mundo, mas é icônico. Foi lá que gravamos o DVD “Live… In the Still of the Night”. Infelizmente, o Bernie Marsden [guitarrista] já se foi, o John Sykes [guitarrista] também, mas daria para reunir vários músicos que passaram pela banda e celebrar o legado do David. Eu participaria com certeza.
Algo assim também seria ótimo para o Dio. Há eventos em homenagem ao Ronnie todos os anos em Los Angeles, mas são locais e pequenos. Ele merecia uma celebração em grande escala, com artistas de todo o mundo. Todo mundo amava o Ronnie: Klaus Meine, Rob Halford… até o Ozzy, apesar de não se darem muito. O David e o Ronnie também acabaram se entendendo. Vamos ver o que o futuro traz.
Cara, temos mais dois minutinhos. Que tal encerrar com uma mensagem para os fãs brasileiros?
Quero agradecer demais a todos vocês. Só de pensar na possibilidade de voltar ao Brasil já me deixa empolgado. Tem tanta banda que vai todo ano, e eu fico me perguntando: por que a gente não está lá também? Então vou fazer de tudo para que isso aconteça no ano que vem.
O Brasil é um país incrível. Estive aí três ou quatro vezes só, mas foram experiências maravilhosas. Quero muito voltar.
Ouça “Lookin’ for Trouble” na sua plataforma digital preferida.
Comentários
Postar um comentário