ATACADÃO DE RESENHAS #3: Dimmu Borgir em dobro, Perfect Plan e W.E.T.

 


Dimmu Borgir – “Death Cult Armageddon

"Abbath disse que parecia algo de 'Star Wars'", riu o vocalista Shagrath em entrevista, ao lembrar da reação do ex-Immortal e compatriota ao ouvir "Progenies of the Great Apocalypse", segunda faixa e carro-chefe de "Death Cult Armageddon". 

A observação faz sentido, considerando que o sexto álbum de estúdio dos noruegueses do Dimmu Borgir marcou a primeira vez em que a banda utilizou uma orquestra completa — no caso, a Orquestra Filarmônica de Praga, regida por Adam Klemens. O grupo já havia recorrido a cordas anteriormente, mas nunca a instrumentos de sopro. O fato de Shagrath ouvir trilhas sonoras de filmes com frequência também ajuda a explicar o caráter quase cinematográfico da obra, frequentemente considerada conceitual — ainda que não no sentido mais estrito.

Embora não apresente uma narrativa linear, "Death Cult Armageddon" possui um forte tema apocalíptico que perpassa suas 11 faixas. O título, segundo Shagrath, descreve bem os conceitos lírico e musical do álbum. Mas não apenas isso: "É também uma declaração óbvia sobre a nossa visão do mundo em geral. Somos uma cultura obcecada por guerra. A humanidade é um culto da morte caminhando rumo à destruição", afirmou ele à Lollipop Magazine.

A capa, assinada pelo discípulo alemão de H.R. Giger, Joachim Luetke, e as letras enfatizam fortemente esse clima de destruição provocada pela industrialização. Um senso coeso de angústia e desespero permeia os versos de "For the World to Dictate Our Death". Já "Cataclysm Children" mira em um dos alvos favoritos dos black metallers — as religiões organizadas — e propõe: "Now it's time to rise and demand our due" ("Agora é hora de nos levantarmos e exigir o que nos é devido"). Em "Blood Hunger Doctrine", a abordagem se torna quase hobbesiana ao atribuir ao homem e ao seu "fanatismo diabólico" a culpa pelo que os letristas Silenoz e Shagrath definem como "o holocausto final".

Após anos fora de catálogo, a Shinigami Records recoloca no mercado brasileiro este clássico do black metal sinfônico. A edição é simples, é verdade — mas o que mais incomoda talvez seja a ausência da faixa bônus "Satan My Master", presente em diversas versões anteriores, inclusive nacionais.

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Dimmu Borgir – “In Sorte Diaboli

Depois do Ozzfest de 2004, quando o Dimmu Borgir planejava uma pausa, o guitarrista e membro fundador Silenoz sondou os colegas para ver se havia disposição em compor algo diferente dos álbuns anteriores. Enquanto ele registrava ideias por um lado e a banda improvisava na sala de ensaio por outro, surgiu, de forma espontânea, o primeiro álbum conceitual dos noruegueses.

Ambientado na Europa medieval, “In Sorte Diaboli” — expressão em latim que pode ser traduzida como “Em aliança com o diabo” — narra a história de um aspirante a padre que se rebela contra a religião e decide se aliar ao mal para combater a hipocrisia religiosa. “As letras são os diários dele, descrevendo a luta pela vitória pessoal e espiritual e, finalmente, sua rejeição absoluta do conceito de Deus e da religião”, explicou Silenoz à Classic Rock em 2007. Com o perdão do spoiler, o personagem central termina queimado vivo por seu comportamento anticristão.

Musicalmente, o repertório se concentra em canções com arranjos sinfônicos. São numerosas as orquestrações e os corais. Os refrães com vocais limpos de ICS Vortex — em contraste dramático com os guturais de Shagrath — são decisivos para a atmosfera grandiosa de “The Serpentine Offering” e “The Sacrilegious Scorn”. A bateria de Hellhammer varia entre blast beats e pedais duplos, sustentando viradas precisas em momentos mais lentos e de ritmo médio que concedem a faixas como “The Chosen Legacy” um dinamismo muitas vezes criticado pelos fãs da fase inicial, quando a fórmula era puramente black metal — e ninguém jamais teria imaginado que o Dimmu Borgir se tornaria a banda de metal mais comercialmente bem-sucedida da Noruega.

Por fim, toda a apresentação visual da recém-lançada reedição brasileira — que inclui slipcase e um encarte de 32 páginas fora da caixa acrílica — reforça a tese de que “In Sorte Diaboli” é um dos melhores trabalhos já feitos pelo Dimmu Borgir; e, até que a banda prove o contrário, seu último grande álbum.

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Perfect Plan – “Heart of a Lion

Quando do lançamento de "Heart of a Lion", quarto álbum de estúdio do Perfect Plan, em fevereiro, o vocalista Kent Hilli declarou: "Nós nos desenvolvemos e amadurecemos como banda em termos de composição e produção (...) E acho que fortalecemos nosso som e identidade." Mas, como todo disco enraizado no som AOR dos anos 80, o novo trabalho dos suecos soa mais como o de uma banda que aperfeiçoou o método do que o produto.

Pode até ser que a escrita — fortemente influenciada pelos Davis (Giant, The Storm) e Golias (Europe, Foreigner, Survivor) do melodic rock — leve menos tempo do que antes, e que todo o processo aconteça de forma mais eficiente, dentro de orçamentos e prazos; daí o tal amadurecimento citado por Hilli. Mas as canções em si não se distanciam em nada do que o quinteto, hoje completo por Rolf Nordström (guitarra), Leif Ehlin (teclados), Mats Byström (baixo) e Fredrik Forsberg (bateria), vem apresentando desde a estreia, "All Rise", sete anos atrás — ainda com o baixista original, P-O Sedin.

Dito isso, se você gostou dos álbuns anteriores, vai adorar "Heart of a Lion", que já começa mostrando suas melhores cartas na faixa-título — uma espécie de "Eye of the Tiger" do novo milênio, feita sob medida para embalar lutas cotidianas dentro e fora dos ringues. O pique se mantém com a mensagem otimista e o registro mais grave (e pouco explorado) de Hilli em "We Are Heroes", além do bom refrão de "All Night".

A partir de "Turn Up Your Radio" — cuja letra datada exige uma leitura para além do sentido literal —, o disco começa a perder fôlego, culminando na breguíssima "My Unsung Hero", balada que só funciona como vitrine para uma interpretação desnecessariamente afetada do vocalista, marcando o ponto mais dissonante da audição. Depois de uma sequência que cumpre tabela, a dobradinha final "Danger on the Loose" e "At Your Stone" até recalcula a rota, mas um pouco tarde demais. A essa altura, a vontade é de recomeçar o disco e parar antes que o leão comece a dar sinais, ainda que leves, de insuficiência cardíaca.

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W.E.T. – “Apex

A despeito de “One Last Kiss”, a última faixa de “Retransmission” (2021), carregar nas entrelinhas um adeus para o qual não estávamos preparados, o W.E.T. não apenas manteve sua existência, como ressurge mais forte do que nunca em seu quinto álbum, “Apex”, lançado no Brasil pela Shinigami Records.

Jamie Borger, ex-colega de Jeff Scott Soto no Talisman, assume a bateria em dez das onze faixas — a exceção é “This House Is On Fire”, gravada por Philip Crusner, do Eclipse. Sua presença confere um peso adicional a canções que poderiam muito bem figurar em um álbum do Eclipse anterior às experiências pouco ortodoxas de Erik Martensson e cia. que, vale lembrar, dividiram opiniões. Não por acaso, “This House…”, assim como a derradeira “Day By Day”, tem coautoria de Dag Finn, ex-líder do Sha-Boom e figura essencial dos primórdios do melodic rock escandinavo.

As referências ao Talisman aparecem em diversos momentos: nos riffs de “What Are We Fighting For”, herdeira direta de “Mysterious”; em “Pay Dirt”, que poderia integrar a tracklist de “Humanimal” (1994); e na balada “Love Conquers All”, um verdadeiro soro glicosado auditivo, com direito a “ooohs” para que até quem não domina o inglês possa cantar junto.

Com um tom questionador, “Where Are the Heroes Now” ganha força extra ao trazer Erik e Jeff dividindo o microfone em pé de igualdade — uma descrição precisa e alarmante do mundo atual, coroada por um final estendido que abriga o melhor solo de Magnus Henriksson em todo o álbum. E se o cenário global é de guerra, “Breaking Up” propõe ao menos uma trégua entre quatro paredes, lembrando que nada custa mais caro do que o arrependimento.

Já “Nowhere to Run” surge com um riff cheio de suingue que desemboca em mais um refrão pronto para o sing-along. “Pleasure & Pain” começa com uma atmosfera sombria, mas logo se revela prisioneira da fórmula ganchuda típica das composições de Erik. Por fim, a música que melhor sintetiza a essência original do W.E.T. é “Stay Alive”, que soa como um resquício das sessões que originaram o primeiro álbum do supergrupo, 16 anos atrás.

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