ENTREVISTA: Allen Key passa a limpo ano vitorioso e analisa os desafios de viver do metal no Brasil


Após estrear no Lollapalooza Brasil 2025 e levar o peso do metal contemporâneo a um dos maiores festivais do país, a Allen Key vive um momento decisivo de consolidação artística e projeção nacional. Com o single “Get in Line”, a banda paulistana deixa claro que entrou em uma nova fase: mais pesada, mais direta e mais madura, sem abrir mão da identidade construída desde os primeiros passos no hard rock. A música funciona como um manifesto sonoro e simbólico sobre transformação, resistência e afirmação em meio a um cenário competitivo e, muitas vezes, hostil.

Nesta entrevista exclusiva, Pedro Fornari, Victor Anselmo e Karina Menascé falam com franqueza sobre essa transição, a resposta do público aos shows recentes — incluindo apresentações ao lado de nomes como Uriah Heep, Tarja Turunen e Crypta —, os desafios de viver de metal autoral no Brasil e o papel da banda dentro da cena nacional atual. Entre reflexões sobre identidade artística, bastidores de estrada e questões estruturais do mercado, a Allen Key reforça por que deixou de ser apenas uma promessa para se afirmar como uma das forças mais relevantes do novo metal brasileiro.


Por Marcelo Vieira

Fotos: Caike Scheffer (@caikescheffer) / Divulgação


2025 foi um ano marcante para a Allen Key. Tudo começou com o single “Get in Line”, que representa uma nova fase para a banda. O que essa música significa para vocês, pessoalmente, e para a identidade do grupo?

Pedro Fornari: Este ano realmente foi muito marcante para nós. Já vínhamos mostrando um lado mais pesado da banda em alguns lançamentos anteriores a “Get in Line”, com a intenção de apresentar algo novo e mais intenso. Acredito que “Get in Line” representa muito bem essa nova fase e essa nova cara que queremos dar ao próximo álbum. A música também fala sobre como lidar com inveja e energias negativas, algo que sabemos ser muito presente no cenário em que estamos inseridos.


O videoclipe de “Get in Line” traz a cobra como símbolo de transformação e resistência. Que sentimentos vocês quiseram transmitir ao público? E como tem sido a resposta desde o lançamento?

Pedro Fornari: “Get in Line” reflete bem o momento que estamos vivendo: estamos colhendo frutos importantes do nosso trabalho e passando por uma fase de transição e transformação dentro da Allen Key. Com isso, sabemos que acabam surgindo pessoas com inveja e olho gordo. A música fala justamente sobre como lidar com esse tipo de negatividade — é um recado para quem tenta nos derrubar, um verdadeiro ato de resistência. Ela transmite a ideia de que viemos para ficar e estamos prontos para o que vier pela Allen Key. 

E a resposta do público tem sido muito positiva! Nos shows, vemos a galera cantando “Get in Line” e abraçando essa nova fase da banda, o que é muito gratificante.


Falando em transformação, a banda nasceu com fortes influências de hard rock e hoje apresenta uma sonoridade mais próxima do metal contemporâneo. Como você enxerga essa evolução e quais artistas ou experiências contribuíram para esse processo?

Pedro Fornari: A Allen Key sempre buscou explorar diferentes sonoridades. Cada integrante tem suas próprias influências, e isso se reflete no nosso som, que mistura elementos variados do rock e do metal. Desde o início, fomos rotulados como uma banda de hard ‘n’ heavy, justamente por termos músicas mais pesadas, faixas mais voltadas ao hard rock e até algumas baladas. No fim das contas, tocamos aquilo que gostamos de ouvir, trazendo um pouco da essência de cada um de nós.

Com o tempo, percebemos que estávamos nos identificando cada vez mais com composições mais pesadas, e que o público também reagia muito bem a elas. Isso nos inspirou a explorar ainda mais o metal contemporâneo e a dar essa nova “cara” à Allen Key. Decidimos, então, definir uma linha mais clara de timbres e composições, criando uma identidade mais pesada e madura para o próximo álbum. Nosso objetivo é entregar um som mais sólido, com mais autoridade, e reafirmar nossa posição no mercado. Essa transformação tem sido incrível e representa uma nova fase da banda: mais forte, mais madura e pronta para o que vem pela frente.


Em 2025, a Allen Key se apresentou pela primeira vez no Lollapalooza Brasil. Como foi levar o peso do metal para um festival com um público majoritariamente indie e alternativo?

Pedro Fornari: Antes de tudo, foi a realização de um sonho tocar no Lollapalooza. Tivemos a honra de abrir um dos palcos principais do festival naquele dia. Sabíamos da responsabilidade, já que o headliner era a Olivia Rodrigo e a sexta-feira tinha um perfil mais voltado ao indie e ao pop — diferente de outros dias em que tocaram bandas mais pesadas, como Sepultura e Tool.

Entramos no palco com a ideia muito clara de mostrar quem é a Allen Key. Fomos para tocar, mostrar nosso som e nos divertir, independentemente do público que estaria ali ou de qualquer julgamento. Confiamos nas nossas músicas e no nosso trabalho. E a recepção foi incrível! Entramos com uma certa pressão, claro, mas estávamos totalmente entregues ao show e ao momento. Foi muito bonito ver crianças e adolescentes, que estavam ali para ver a Olivia Rodrigo, curtindo o som, balançando a cabeça e vibrando. Foi uma experiência única, surreal e que marcou nossas vidas para sempre.



Pouco tempo depois, vocês abriram para o Uriah Heep em São Paulo, além de já terem dividido o palco com nomes como Angra, Tarja Turunen e Edu Falaschi. Qual desses encontros foi o mais marcante e por quê?

Victor Anselmo: Com certeza, os shows com a Tarja. Além de nossa primeira apresentação no Rio ter sido com ela, tocamos também em São Paulo, no Tokyo Marine Hall, onde ela gentilmente nos recebeu em seu camarim e tirou fotos com todos nós. Em Brasília, quando ela fez o show com o Marko [Hietala], tivemos uma conversa incrível com ele no pós-show. São memórias inesquecíveis, sem dúvida.


Tive a chance de assistir ao show de vocês no Rio de Janeiro, abrindo para a Crypta. Como foi a experiência de cair na estrada com o que talvez seja a banda brasileira de maior expressão atualmente? Alguma lembrança especial dessa turnê?

Victor Anselmo: Essa foi, sem dúvida, a experiência mais incrível da minha carreira até agora. Além da admiração que eu já tinha pelas meninas como musicistas, passei a admirá-las ainda mais como pessoas. Foi algo ao mesmo tempo leve e surreal poder acompanhá-las de perto todas as noites. Isso me motivou a querer ser melhor, tanto como músico quanto como banda. É realmente inspirador.

Não posso deixar de destacar também o profissionalismo da equipe delas, além de serem seres humanos incríveis. Sinto que saímos dessa turnê não apenas com grandes experiências, mas também com novos amigos.


Por favor, entendam como um elogio: achei a Allen Key ainda mais impactante ao vivo do que nas gravações. Como vocês se preparam, física e mentalmente, para entregar tanta energia em cada show? E como é a recuperação depois? [Risos.]

Victor Anselmo: O pré-show é sempre um momento de ansiedade — no bom sentido — porque nunca sabemos exatamente como seremos recebidos. Ainda assim, sempre subimos ao palco preparados para entregar 200% do nosso potencial. Já o pós-show é outra história: é preciso muito alongamento e preparo físico para aguentar vários shows seguidos. A academia precisa estar em dia! [Risos.]


O metal sempre foi — e deve continuar sendo — um espaço de reinvenção e resistência. Na sua visão, como o Allen Key contribui para a cena do metal nacional e para a conquista de novos públicos?

Victor Anselmo: Nós sempre escrevemos o tipo de música que temos vontade de fazer. Por isso, acho difícil responder quando perguntam “que tipo de música vocês tocam?” ou “de qual gênero vocês são?”. Sinceramente, eu não sei definir [Risos.] Não é hard rock, não é metal tradicional, não é death metal. Geralmente, peço para a pessoa ouvir e tirar suas próprias conclusões. Acho muito importante não nos limitarmos a um único gênero ou rótulo, porque é assim que coisas novas e interessantes surgem.



Sendo você, Karina, uma mulher na cena do metal, ainda percebe comportamentos machistas ou isso tem melhorado? Pode citar exemplos de atitudes reprováveis que já tenha presenciado?

Karina Menascé: Sim, infelizmente ainda vivencio situações que me causam profundo desgosto em relação ao comportamento masculino. Mesmo após tantos anos, percebo que muitos ainda insistem em se impor, especialmente elevando o tom de voz quando o diálogo é com uma mulher. Passei por episódios assim recentemente, inclusive com técnicos de som e integrantes de bandas. Atitudes desse tipo são, no mínimo, repugnantes.


Atualmente, a banda integra o time da Canil Records e da Deck Disc. Como tem sido essa parceria e de que forma ela contribui para o crescimento do grupo?

Karina Menascé: Tem sido uma experiência muito positiva. A Canil, em especial, é de longe o selo que mais apoia a Allen Key em todos os aspectos, de forma completa e consistente. Eles são extremamente prestativos, atenciosos e práticos — qualidades que valorizo muito. Toda contribuição recebida é sempre muito bem-vinda, e trabalhamos intensamente para retribuir esse apoio, buscando facilitar a vida de todos os nossos parceiros.


A Allen Key é um trabalho 24/7? Vocês vivem exclusivamente da banda ou conciliam com outras atividades? Afinal, é possível viver de metal autoral no Brasil?

Karina Menascé: A Allen Key exige dedicação total, 24 horas por dia, sete dias por semana. Caso contrário, as coisas simplesmente não fluem. No entanto, ainda não temos volume suficiente para que a banda sustente todos nós integralmente. Portanto, sim: a Allen Key é um trabalho em tempo integral, mas que precisa caminhar em paralelo com outras atividades mais rentáveis no momento. Considerando que uma coisa depende da outra, deixar qualquer um desses lados de lado, nas circunstâncias atuais, significaria comprometer o sucesso da banda.


Para encerrar: quais são os próximos passos da Allen Key? Podemos esperar um novo álbum em breve?

Karina Menascé: Estamos trabalhando muito para entregar um novo trabalho com a melhor qualidade e estrutura possíveis. Acompanhem a gente de perto — garanto que vocês não vão se arrepender!



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