Crowne – “Wonderland”
Fãs de melodic rock e AOR têm tido motivos de sobra para comemorar em 2025. Um dos mais recentes atende por “Wonderland”, terceiro álbum de estúdio do Crowne, supergrupo sueco formado por Alexander Strandell — conhecido por seus vocais marcantes no Art Nation, Lionville e Nitrate — ao lado do guitarrista Love Magnusson (Dynazty), do tecladista Jona Tee (H.E.A.T.), do baixista John Levén (Europe) e do baterista Christian Lundqvist (ex-The Poodles).
O quinteto está à altura de suas credenciais: são 37 minutos que conjugam o melhor do rock de arena com nuances mais pesadas — vocais melódicos com ornamentações técnicas, ritmos que variam entre mid-tempo e up-tempo, guitarras de timbre cristalino, teclados expansivos que transitam do AOR ao power metal, além de uma produção moderna que valoriza nitidez e ambiência. Tudo isso aplicado em atmosferas épicas, refrães grandiosos e execução primorosa.
A faixa-título abre o álbum como um convite à superação e à busca por um “lugar melhor” — cartão-postal perfeito da proposta estética do disco. Em “Waiting for You”, o andamento acelera e a narrativa se torna mais direta, guiada pela expectativa de um romântico incorrigível. Poderia integrar um álbum do H.E.A.T., assim como “Hearts Collide”, na qual Magnusson comprova pulso firme nos versos e técnica refinada no solo. “Eye of the Oracle” aposta em atmosfera mística e quase cinematográfica, enquanto “Warlords of the North” abraça a fantasia com tom épico e reverência explícita ao Rainbow. Mais adiante, o imediatismo de “Timing Is Right” — com seu refrão curto e repetitivo — parece concebido para rádio, se esse ainda fosse um espaço viável ao rock contemporâneo.
Distribuído no Brasil pela Shinigami Records, “Wonderland” não apenas confirma o Crowne como um dos nomes mais consistentes dessa nova geração sueca que mantém o hard and heavy melódico vivo e relevante em pleno século XXI, como projeta o grupo com ainda mais confiança em direção ao futuro.
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Diamond Head – “Live and Electric”
Em novembro de 2022, o Diamond Head realizou 14 shows no Reino Unido como banda de abertura para o Saxon — grupo ao qual o guitarrista Brian Tatler se juntaria oficialmente no ano seguinte, substituindo o membro fundador Paul Quinn. Pela primeira vez na carreira, os decanos da New Wave of British Heavy Metal tiveram a oportunidade de gravar todas as apresentações e depois selecionar as melhores performances.
O resultado é “Live and Electric”, o primeiro álbum ao vivo do Diamond Head desde “It’s Electric”, gravado em 2005 e lançado em 2006. Como era de se esperar, o repertório enfatiza o clássico absoluto “Lightning to the Nations” (1980), com cinco de suas sete faixas incluídas — entre elas “Am I Evil?”, apresentada a toda uma nova geração de headbangers graças à célebre versão anotada pelo Metallica em “Garage, Inc.” (1998). Aqui, a faixa é recebida pelo público do King George’s Hall, em Blackburn, como o hino imortal que é.
Seria um equívoco reduzir o Diamond Head — cuja formação atual conta ainda com o vocalista (e também coprodutor e responsável pela masterização do disco) Rasmus Bom Andersen, o guitarrista base Andy Abberley, o baixista Paul Gaskin e o baterista Karl Wilcox (ex-Tank) — a uma banda de um único álbum quando os dois de estúdio mais recentes, em especial “The Coffin Train” (2019), soam tão jogo-ganho quanto. Ainda assim, teria sido interessante ver o grupo realizar algumas escavações mais profundas em seu catálogo. Com participações de Tony Iommi (Black Sabbath) e Dave Mustaine (Megadeth), “Death and Progress” (1993), por exemplo, é uma verdadeira mina de ouro.
Divagações à parte, “Live and Electric” reafirma alto e bom som o status do Diamond Head como um dos pilares do metal britânico. É ouvir — de preferência, no talo — para se ter certeza de que muito do que hoje se entende como thrash e speed metal deve à chama que Tatler e companhia acenderam quase cinco décadas atrás.
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Edguy – “The Singles”
Lançada originalmente em 2008 e relançada no Brasil pela Shinigami Records em 2025, a coletânea “The Singles” reúne EPs e lados B que marcaram a fase mais popular do Edguy, funcionando ao mesmo tempo como um retrato preciso de sua estética naquele período e uma síntese do humor, da grandiosidade e da versatilidade da banda.
Musicalmente, o repertório destaca a capacidade do grupo de transitar entre o power metal épico (“King of Fools”, “New Age Messiah”), baladas emotivas (“Blessing in Disguise”), covers (“I’ll Cry for You”, do Europe, e “The Spirit”, do Magnum) e momentos de zoeira autoconsciente (“Life and Times of a Bonus Track”).
Nas letras, Tobias Sammet alterna o sarcasmo teatral de faixas como “Lavatory Love Machine” (que também aparece em uma improvável versão acústica) e “Judas in the Opera” — com participação especial de Michael Kiske (Helloween) — com o tom de autoafirmação característico do power metal, evidente na já citada “King of Fools”, cujos versos reforçam a centralidade de um indivíduo fora dos padrões.
“Superheroes”, um dos maiores hinos dos alemães, celebra o herói cotidiano tanto na versão original quanto na versão “Epic”, um corte estendido que amplia os elementos orquestrais e de teclado. “Spooks in the Attic” combina fraseados nervosos com imagens oníricas; “The Savage Union” flerta com um clima bélico pouco comum no estilo; e “Holy Water” lança comentários nada lisonjeiros aos chamados santos do pau oco.
Seja para quem conhece apenas o básico, seja para colecionadores completistas, “The Singles” funciona como uma peça essencial para compreender a fase mais carismática do Edguy — uma das bandas mais populares do metal melódico dos anos 2000 e que, segundo seu líder em entrevista a este jornalista, dificilmente voltará a gravar discos.
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FM – “Brotherhood”
Pode uma banda ainda estar no auge no seu 15º álbum de estúdio? Se a banda for o FM, a resposta é sim — e com sobra. “Este é um dos nossos trabalhos mais fortes até hoje”, entusiasma o vocalista Steve Overland, esperando que os fãs sintam o mesmo que ele, os cofundadores Merv Goldsworthy (baixo) e Pete Jupp (bateria), além do tecladista Jem Davis e do guitarrista Jim Kirkpatrick, sentem em relação a “Brotherhood”, que acaba de chegar ao Brasil com distribuição da Shinigami Records.
Steve pode ficar tranquilo: é impossível não considerar excelente um álbum que reafirma o status do grupo britânico como mestres do AOR — e faz isso sem abrir mão de um repertório diversificado que não soa como experimentos aleatórios, mas como um esforço calculado para evitar qualquer impressão de nostalgia reciclada.
Exemplos práticos dessa fórmula bem-sucedida estão espalhados por todo o disco: do contagiante hino “Living on the Run”, sobre a vida na estrada, à narrativa autobiográfica e reivindicativa da blueseira “Raised on the Wrong Side”; da otimista “Chasing Freedom” à longa e dramática “Just Walk Away”, balada cuja letra sobre um rompimento definitivo já pode ser colocada entre as melhores da carreira do grupo — e isso considerando que baladas são uma especialidade da casa desde seus primórdios.
Falando em primórdios, o FM volta ao Brasil em março para uma única apresentação em São Paulo, na qual tocará seu álbum de estreia, “Indiscreet” (1986), na íntegra. Mas fica a torcida para que o repertório vá além do óbvio e inclua algo de “Brotherhood”, como a radiofônica “Don’t Call It Love” ou até mesmo a introspectiva “The Enemy Within”, faixa que introduz novas paisagens sonoras sem abandonar a pegada melódica que os fãs tanto apreciam.
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