ENTREVISTA: Judith Hill fala sobre Prince e Michael Jackson no bate-papo inédito que ficou meses na gaveta
Quando estava prestes a se apresentar pela primeira vez no Brasil como uma das atrações internacionais da edição 2025 do festival Best of Blues and Rock, Judith Hill conversou comigo sobre a expectativa para o show, seu mais recente trabalho — o excelente “Letters from a Black Widow” (2024) — e mais. O bate-papo, que acabou não sendo publicado na época, você confere abaixo.
Aos 25 anos, Judith Hill foi escolhida como uma das vocalistas de apoio para a série de shows que marcariam o retorno de Michael Jackson aos palcos, em Londres. Os espetáculos, no entanto, jamais aconteceram: a morte prematura do Rei do Pop, em junho de 2009, interrompeu os planos. No documentário “This Is It”, que registra os ensaios para a turnê, Judith se destaca não apenas pela potência vocal, mas também pela química que estabelece com Michael no palco. Um dos momentos mais marcantes é o dueto dos dois em “I Just Can’t Stop Loving You”.
A visibilidade conquistada com “This Is It” projetou Judith Hill no cenário internacional. Apesar da tragédia, sua carreira ganhou fôlego. Mais tarde, ela participou do programa The Voice, nos Estados Unidos, e colaborou com grandes nomes da música — entre eles, Prince, que produziu seu álbum “Back in Time” (2015).
Boa leitura!
Por Marcelo Vieira
Por ser filha de músicos, você cresceu cercada pela arte. Chegou a ter algum contato com música brasileira nesse ambiente familiar ou ao longo da sua formação musical?
Sim, com certeza. Eu gosto muito de música brasileira. Sempre ouvi alguns artistas e realmente adoro os movimentos harmônicos que muitos músicos brasileiros criam. Sempre foi algo que me atraiu muito.
No ano passado, você lançou “Letters from a Black Widow”, seu quinto álbum de estúdio. A julgar pelo título e pelas letras, podemos considerá-lo tanto um álbum conceitual quanto autobiográfico?
Sim, acho que essa é uma boa forma de descrevê-lo. É um álbum conceitual, ainda que de maneira mais livre. Foi um trabalho em que me permiti correr riscos e falar sobre coisas mais sombrias e difíceis. Criar esse disco foi um processo libertador. A personagem da Viúva Negra surgiu a partir de experiências muito dolorosas que vivi. Encarar essas emoções sob uma ótica mais teatral — como se fosse uma peça de teatro — me ajudou a expressar sentimentos profundos e encontrar um certo alívio.
Durante o processo de composição e produção do álbum, houve alguma faixa que tenha surgido de forma especialmente intensa ou inesperada?
Sem dúvida, a música “Black Widow” foi a mais intensa e emocional. Ela me permitiu dar voz à dor, sem precisar consertá-la ou suavizá-la — apenas deixá-la existir. Escrever essa faixa foi uma experiência muito poderosa para mim.
Você teve a chance de trabalhar de perto com dois dos maiores artistas da história da música: Prince e Michael Jackson. Na sua opinião, o que havia de semelhante entre eles?
Os dois tinham visões grandiosas. A energia deles era imensa e transcendia tudo. Quando escreviam uma música, ela já nascia com a dimensão de um hino de estádio — com mensagens fortes e emoções à flor da pele. Foi uma experiência avassaladora dividir o palco com artistas assim. Quando o Prince, por exemplo, tocava o primeiro acorde, era como se a gravidade do som te arremessasse do palco. Eles tinham sonhos e visões muito poderosos — e uma capacidade única de apresentá-los ao público.
E o que os tornava completamente diferentes?
Prince era um músico completo — tocava todos os instrumentos — e comandava a banda como um verdadeiro maestro. Os arranjos ao vivo eram elaborados, cheios de nuances, com passagens improvisadas, seções dinâmicas… tudo muito bem ensaiado, mas ainda assim fluido e livre. Já o Michael era extremamente teatral. A minha experiência com ele foi marcada por grandes produções, pirotecnia, efeitos e um altíssimo valor de produção. Ambos tinham elementos em comum, mas enquanto o Prince focava mais no aspecto “banda ao vivo”, o Michael era mais voltado à encenação e ao espetáculo visual.
Perder dois mentores tão icônicos em um curto espaço de tempo certamente não foi fácil. De que forma essas perdas moldaram sua trajetória artística? Você sente que transformou esse luto em música, em expressão?
Com certeza. A música sempre foi o espaço onde posso me sentir humana e processar o luto. Continuar compondo e me apresentando foi essencial para lidar com essas perdas.
Você já comentou que tocar guitarra foi, para você, uma espécie de terapia — que ela entrou na sua vida num momento em que você precisava de uma nova perspectiva. O que torna a guitarra tão especial para você em comparação com o canto ou o teclado?
A guitarra é como uma segunda voz para mim. Diferente do teclado, onde uma nota é sempre a mesma para qualquer pessoa, na guitarra cada dedo, cada músico, tem um timbre próprio. É uma extensão da alma. Como cantora, me conectei profundamente com a capacidade que a guitarra tem de soar como a voz humana, com emoção e intensidade. Ela me permitiu expressar raiva, angústia e sentimentos que minha voz não conseguia alcançar. Era quase como se eu estivesse conversando comigo mesma — um verdadeiro diálogo entre duas vozes.
Quais foram os guitarristas que mais influenciaram seu estilo?
Diria que os três principais são Derek Trucks, Eric Gales e, claro, Jimi Hendrix.
E há alguma guitarrista mulher que você destaca como referência ou inspiração?
Sim! Eu adoro a Kat Dyson. Ela é superfunky, tem um estilo incrível. É uma das minhas favoritas.
Para encerrar: você já realizou colaborações memoráveis e gravou álbuns profundamente pessoais. Mas olhando para o futuro, qual seria um sonho que ainda falta realizar — musical ou pessoalmente?
Um dos meus grandes sonhos é transformar um roteiro que venho desenvolvendo há algum tempo em um filme. É uma história poderosa que também envolve música, como um musical, e que quero muito levar para as telas. Estou trabalhando nisso com bastante dedicação — é um dos meus objetivos mais importantes.
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