ENTREVISTA: Junior Bourcier (Atomik Train) fala sobre riffs explosivos, resiliência e a missão de redefinir o hard rock moderno

 


Nascido no coração de Montreal e impulsionado por riffs que “batem como um martelo”, o Atomik Train vem ganhando velocidade na cena hard rock com um som que une energia moderna e o espírito do classic rock. Na conversa a seguir, o guitarrista solo e compositor Junior Bourcier detalha a criação do debut homônimo produzido por John Webster (Aerosmith, Alice Cooper, Mötley Crüe), comenta o impacto dos singles “Supersonik Speedway” e “Back on Earth” e revela como a banda transformou coragem, emoção e pura adrenalina em uma locomotiva sonora pronta para ganhar os palcos do Canadá, EUA e Europa.


Por Marcelo Vieira


Como surgiu a ideia de fundar o Atomik Train? Qual era a visão original para a banda, e como ela evoluiu até o álbum de estreia?

François [Babin, vocalista e guitarrista base] e eu já tocávamos como dupla havia alguns anos, e em certo momento eu disse a ele que queria tocar com uma banda completa — eu precisava de bateria e baixo para realmente curtir tocar rock’n’roll. Então começamos a procurar músicos, encontramos nosso primeiro baterista e as coisas evoluíram até chegarmos ao que somos hoje!

A visão original era criar as melhores músicas de rock’n’roll que conseguíssemos — e essa visão continua exatamente a mesma. Hoje sabemos do que somos capazes e estamos muito orgulhosos do resultado! O segundo álbum vai ser muito bom — com sorte, ainda melhor!!!


Você é responsável por boa parte da composição da banda. Pode compartilhar um pouco do seu processo criativo? Algum equipamento, timbre ou técnica específica de que você depende no estúdio ou no palco?

Bem, eu escrevo músicas há muito tempo, e para mim isso é muito divertido! Eu diria até que preciso criar — isso me curou de muitas maneiras ao longo dos anos.

O processo criativo geralmente começa com muita exploração na guitarra, tentando encontrar algo prazeroso de tocar. Quando encontro um riff legal, trabalho nele como um louco — posso tocar e modificar o mesmo riff 300 vezes seguidas até ficar satisfeito. Depois passo para as melodias de verso e refrão. Foi assim que nasceram músicas como “Supersonik Speedway”, “Destination” e “Reborn”.

Às vezes tenho a visão da música antes do riff — foi o caso de “Back on Earth”. Escrevi essa música em um domingo de manhã com o violão, café na mão, sentado na sala de jantar. No dia anterior, eu havia deixado algumas moedas sobre a mesa, incluindo uma nota de cinco dólares canadenses. Olhei para ela por acaso e vi um astronauta no verso. Aquilo me inspirou na hora, e comecei a trabalhar no riff de introdução imaginando a cena — um astronauta sozinho em sua nave, perdido no espaço, tentando voltar para casa. O resto da música praticamente se escreveu sozinho.

Tenho várias técnicas que posso usar para riffs, mas não penso demais no assunto — apenas toco, guiado por uma única pergunta: eu gosto disso ou não?

Já escrevi músicas com guitarras baratas, em lugares desconfortáveis — nada disso importava, porque eu tinha o sentimento e a visão. Claro, sempre tento tirar o melhor som possível do instrumento, porque às vezes fico arrepiado ao tocar algo muito simples, mas poderoso.


Você mencionou que queria criar músicas “que batem como um martelo, mas ficam na cabeça como uma melodia inesquecível”. Como equilibrou essa força e essa melodia na composição e nos arranjos de guitarra?

É tudo sobre dar vida à visão. Para mim, não há uma única faixa “tapa-buraco” no álbum — essa é a regra principal. Nós precisamos amar as músicas e desenvolvê-las de maneira que faça sentido para nós.

Estudei muitos guitarristas e compositores incríveis ao longo dos anos, às vezes sem nem perceber, e isso me deu um ótimo “compasso interno” para responder à pergunta: isso é bom ou não?

Em “Back on Earth”, eu queria um refrão realmente poderoso. Em “Supersonik Speedway”, queria uma introdução que chutasse portas! Basicamente, primeiro vem a visão, depois uma série de decisões de “sim ou não” até que a música soe incrível aos nossos ouvidos.



O álbum aborda temas como transformação, autoconfiança, coragem e dualidade — especialmente em faixas como “I’m a Winner, I’m a Loser”. Como você aborda esses assuntos e os traduz em música?

Desenvolvimento pessoal é um tema que me interessa há muitos anos. Acho que, quando eu era mais jovem, lutava com autoestima — eu queria me sentir melhor e aprender a me amar mais. François também é muito sensível a isso, e nós nos conectamos profundamente nesse nível, então é natural escrevermos sobre isso.

É bom expressar essas emoções — e esperamos que isso ajude outras pessoas que enfrentam situações semelhantes. Lembro que ouvia muitas músicas do AC/DC, como “For Those About to Rock” e “Shoot to Thrill”, quando estava para baixo — elas me davam coragem para enfrentar meus medos. Quero dar esse mesmo sentimento aos outros.

Há muita emoção envolvida no nosso processo de composição. As letras precisam ter significado — mas a música também. Não penso: “Ah, E e A funcionam bem juntos, vamos usá-los”. É mais: como me sinto quando toco esses dois acordes? A emoção guia tudo.


“Back on Earth” apresenta uma narrativa poderosa de resiliência, usando a metáfora de um astronauta tentando voltar para casa. O que inspirou esse tema e como ele se conecta às experiências pessoais ou coletivas da banda?

Tudo começou com a imagem do astronauta na nota de cinco dólares. Acho que eu estava enfrentando problemas pessoais naquele momento, e escrever a música me fez muito bem. Os caras adoraram imediatamente, e acredito que cada um de nós já teve de superar momentos difíceis — então foi fácil se inspirar e colocar o coração para fora nessa música.


“Supersonik Speedway” é incrivelmente energética e contagiante. Pode nos contar sobre o processo de composição e gravação? E qual foi o conceito por trás da produção do vídeo?

Comecei criando o grande riff de introdução — aquele que entra logo após o grito e o crescendo. Era muito divertido de tocar, e trabalhei no primeiro verso e em uma versão inicial do refrão, que era diferente do final. Na época estávamos trabalhando em outra música com uma vibe parecida, e o pessoal da cozinha rítmica achou que estava soando um pouco demais como AC/DC. Continuei insistindo e, no fim, eles cederam — e hoje é uma das melhores músicas do álbum! Ainda adoro provocá-los sobre isso!

François e eu trabalhamos juntos para finalizar a letra. Ele jogava um monte de palavras porque procurávamos algo que terminasse com “ay”, até que ele disse “Speedway”. Eu só disse: “Oh, é isso!” Naquele momento exato, o refrão “Supersonik Speedway” nasceu e influenciou o resto da música. Foi a combinação perfeita com o instrumental.

Quis que a guitarra rítmica do refrão fosse rápida, para dar a sensação de algo supersônico — como uma pista de corrida colorida no céu. Também queria uma introdução poderosa, algo que lembrasse um pouco o começo de “Fire Woman”, do The Cult.

Para o vídeo, filmamos um show na minha cidade natal, em um palco grande, e achei que seria uma ótima oportunidade para registrar um vídeo ao vivo com o público e as luzes. Então contratamos um amigo nosso dono de uma produtora bem-sucedida, a Productions Chaumont — e eles fizeram um trabalho incrível!!



O álbum foi produzido pelo lendário John Webster, conhecido por trabalhar com Aerosmith e Mötley Crüe, entre muitos outros. Como foi trabalhar com ele e como essa colaboração moldou o som da banda?

Foi simplesmente incrível! Este álbum não seria nem de perto tão bom sem o trabalho genial do John. Nosso consultor e amigo Pierre Paradis, que nos apresentou a ele, disse antes de entrarmos no estúdio: “Façam tudo o que o John disser, e vai ficar incrível!” E foi exatamente isso — e ficou mesmo!

Nos sentimos muito privilegiados por ter tido essa oportunidade, e garanto: se ele ainda quiser trabalhar com a gente, ele produzirá o próximo álbum também!


Embora o som de vocês seja comparado a Guns N’ Roses, Foo Fighters e Avenged Sevenfold, o Atomik Train tem identidade própria. O que é essencial para manter o som da banda único e fresco?

Bem, somos quatro indivíduos únicos — e acho que é a mistura dos nossos estilos e personalidades que torna o som único! Tocamos com o coração. Não estamos tentando soar diferentes; estamos apenas dando tudo de nós em cada nota.


O que os fãs podem esperar da Back on Earth Tour? Há algo especial planejado para a experiência ao vivo?

Podem esperar muita energia, uma conexão forte com o público e muito suor da banda! Especialmente do François — ele geralmente já está encharcado depois de apenas duas músicas!



O álbum será lançado em CD e vinil, além das plataformas digitais. Como você enxerga a relevância da mídia física hoje, especialmente para bandas de hard rock e colecionadores?

Acho que precisamos usar todos os canais disponíveis, mas é claro que hoje há menos papel e mais digital. Ainda assim, o vinil está voltando, e os CDs ainda vendem — não como antes, mas acho que muita gente ainda gosta de ter algo físico quando realmente ama uma banda e sua música.


Por fim, o que vem a seguir para o Atomik Train após o lançamento do álbum e a turnê? Há planos para novos vídeos, colaborações, versões acústicas ou até ideias iniciais para o próximo disco?

Lançamos o clipe de “Back on Earth” e já começamos a escrever músicas para o segundo disco, e acho que os fãs vão gostar!

Pretendemos fazer muitos shows aqui no Canadá e depois seguir para os Estados Unidos e Europa ao longo do próximo ano.


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