REVIEW: Clouds – “Durere” (Relançamento 2021)


Clouds – “Durere”

Lançado originalmente em 2 de março de 2020

Cold Art Industry – NAC. – 58min


Daniel Neagoe foi cristalino quanto às motivações do Clouds quando formou a banda em 2013: fazer música dedicada aos que já partiram, aos entes queridos que agora não estão mais entre nós. Cinco anos e quatro álbuns depois, o multi-instrumentista romeno sentiu que era hora de virar a página, talvez para se dedicar mais ao Eye of Solitude ou conseguir dar conta de ser baterista em tempo integral do Shape of Despair. Mas o destino tinha outros planos.


Em 2019, Ion Neagoe, pai de Daniel, perdeu a batalha contra o câncer. A experiência foi tão dolorosa que o cara não só reviveu o Clouds como compôs seu melhor e mais íntimo trabalho. Em romeno, “durere” significa dor, aflição, sofrimento; três dos principais ingredientes dos 58 minutos mais lúgubres que se possa imaginar. O álbum é um convite à imersão, à reflexão, e gera identificação instantânea: quem nunca ficou na merda com a morte de alguém? 



Os vários estágios do luto, precedidos por meses de martírio e impotência, ecoam em belíssimas árias com fundo orquestral perene, muito dedilhado de violão e ornamentos dramáticos nas quais Daniel alterna entre o registro limpo, anestesiado, e um gutural tão cavernoso que é como se seus demônios interiores tivessem resolvido dar as caras, implorando para ser canalizados para músicas que, de embebidas em contentamento, feito relâmpago em céu azul, assumem um caráter de revolta, de indagação; prato cheio para quem prefere o doom menos engessado. 


“Perdi a fé e a força para seguir em frente”, urra ele em “Empty Hearts”, a contraparte sonora da incrível capa assinada por Alexandru Cozaciuc. Embora o discurso preserve o conteúdo (“Perdemos a vontade de viver”) na forma, “Images and Memories” é o outro lado da moeda; com zero guturais, é sem dúvida o momento mais acessível para o ouvinte casual. Aos que acham que estão com o coração e a saúde mental em dia, a prova de fogo vem na segunda metade com “A Father’s Death”, cujo verso “A father’s death will show his child his mortality” (“A morte de um pai mostrará a seu filho sua mortalidade”) segue a escola Jonas Renske (Katatonia) de poética fúnebre. 



Ao lado de Daniel, uma formação responsa: nas guitarras, a dupla Indee Rehal Sagoo (mais novo integrante do Saturnus) e Mihai Dinuta; no baixo, Alex Costin (o Wolf do Apocaliptic, há uma década sem lançar nada); na bateria, Luca Breaz; no violino e nos backing vocals, Irina Movileanu (ex-An Teos). Resta ainda espaço para o flautista Andrei Oltean (recentemente efetivado) e para mais um guitarrista, Emil Ciuperca, fazerem participações especiais. 


Exatamente um ano depois de seu lançamento original, “Durere” chega ao Brasil em tiragem limitadíssima de 300 cópias incluindo luva com acabamento metalizado, pôster dupla-face 24x36 e a faixa bônus “I Fear the Light”, na qual Daniel divide o microfone com ninguém menos que o cérebro por trás do Pantheist, Kostas Panagiotou. 


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