REVIEW: Cloven Hoof – “Cloven Hoof” (Relançamento 2020)

 


Cloven Hoof – “Cloven Hoof”

Lançado originalmente em 1984

Classic Metal Records / Voice Music / Rock Brigade Records – NAC. – 36min


A Classic Metal Records se junta à dupla Voice Music e Rock Brigade Records no relançamento mais recente da série Rare Archives; um disco fundamental da New Wave of British Heavy Metal que nem no tempo do vinil teve edição brasileira.


O Cloven Hoof já havia lançado o autofinanciado EP “The Opening Ritual” (1982) e com ele alcançado uma impressionante décima oitava posição nas paradas quando chegou ao Impulse Studios em outubro de 1983 para gravar seu primeiro LP. Foi por pouco, bem pouco, que David Potter (vocais), Steve Rounds (guitarra), Lee Payne (baixo) e Kevin Pountney (bateria) não fecharam com a CBS Records, maior selo do mundo na época; David Hemmings, ex-empresário do Judas Priest, estava prestes a descolar um contrato para a banda quando morreu tragicamente em um acidente de carro. Quis o destino que a Neat Records, lar de nomes como Venom, Raven e Satan, entrasse em cena e viesse ao resgate.



Uma vez em estúdio, o quarteto chegou perto de se desmantelar. Enquanto gravavam a música homônima à banda, que inclui em sua letra trechos da obra de referência da cultura wicca intitulada Livro da Sombras, forças sobrenaturais se manifestaram fazendo instrumentos voarem pela sala de ensaio e levando Potter e Rounds, cagados de medo, a ponderar acerca de sua permanência “num grupo que realiza magia negra”. Acalmados os ânimos – e limpadas as bundas –, a dupla não só ficaria como curtiria um bocado à custa da gravadora, que hospedou a rapaziada num luxuoso hotel à beira-mar.



Na condição de único remanescente dos primórdios, Payne gosta de atribuir ao grupo que capitaneia há quatro décadas um caráter inovador que, dependendo da bagagem do ouvinte, pode soar levemente exagerado, mas não completamente equivocado. Há, sim, no som e na estética, algo que diferenciava o Cloven Hoof de seus pares da cena britânica: o fato de cada um dos integrantes estar atrelado a um dos quatro elementos – Fogo, Terra, Água e Ar –, realizando performances quase teatrais e tocando músicas de caráter progressivo, como “The Gates of Gehenna” e “Return of the Passover”, que rejeitam a fórmula verso-refrão-verso em favor de estruturas mais complexas e repletas do que se pode chamar de ritmo narrativo certamente fazem do grupo um caso à parte. Mas a espinha dorsal do que se ouve ainda é o heavy metal padrão, baseado em acordes, fraseados de guitarra e bons refrãos: que o digam “Nightstalker” – que a galera mais geek reconhecerá do game Brutal Legend – e “Laying Down the Law”, que Lee sabe, não tem como deixar de fora do repertório ao vivo da banda. 



Embora em 1984 a NWOBHM já tivesse perdido espaço na mídia, “Cloven Hoof” bateu a marca de 24 mil cópias vendidas na Europa; pouco se compararmos com o Iron Maiden, mas muito, muito mesmo, em relação à enormidade de bandas do movimento que nadou pouquíssimas braçadas e morreu antes de sequer avistar a praia. 


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