#TBT: ENTREVISTA com Paul Daniels (Rox Diamond) de 2018


“Tu já entrevistou o Paul Daniels? [risos] Então tu zerou a vida, filho. Esse cara é foda!”, disse um colega na última semana. O comentário motivou o resgate do conteúdo abaixo. 


O passar dos anos conferiu ao primeiro álbum do Rox Diamond (1992) o status de cult característico de quem lança um disco e some sem deixar vestígios. Pudera: o quarteto de Los Angeles, que contava com o batera Dwain Miller (Keel), dá uma aula de Melodic Rock digna dos baluartes do gênero. Em 2018, um novo capítulo foi aberto na história do Rox Diamond. Nele, ao chefão Paul Daniels (vocais e teclados) e seu fiel escudeiro Kevin Bach (guitarra) juntaram-se os novatos Elliot Mayhew (baixo) e Mike Hansen (bateria), e os quatro promoveram um verdadeiro resgate sonoro, com canções que dialogam com o que de melhor Paul e Kevin registraram quase três décadas atrás. Tive a oportunidade de bater um papo com Daniels na época do lançamento. Na entrevista a seguir, publicada originalmente no site Metal Na Lata, você confere o que o vocalista tem a dizer sobre o caminho até “Let the Music Do the Talkin’”. Boa leitura!


Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: Como é estar de volta à ativa depois de treze anos? O que mudou ou evoluiu neste tempo?

Paul Daniels: É ótimo estar de volta, ainda mais lançando um novo álbum. Ele levou muito tempo para ficar pronto por uma série de razões, sobretudo conflitos de agenda, mas isso acaba tornando o resultado ainda mais recompensador e satisfatório!


MV: Quando a decisão de gravar um novo álbum foi tomada e que papel a Lions Pride Music desempenhou nisto?

PD: A Lions não estava inicialmente envolvida. Tudo começou anos atrás, após tocarmos no Firefest. Serafino Perugino, da Frontiers, e eu começamos a conversar sobre um possível novo álbum do Rox Diamond. Acabamos não chegando num denominador comum. Aí me lembrei de que Carsten Nielsen, da Lions, e eu havíamos trocado e-mails no passado e, num deles, ele dizia: “Avise-me quando o novo álbum estiver pronto.” Então, construí um estúdio em casa e comecei os trabalhos. Enfrentei vários problemas técnicos no decorrer do processo, o que é comum quando se grava dessa maneira. Meu engenheiro de som Chris Pett e eu tivemos muitas dores de cabeça; afinal, trabalhávamos no álbum durante nosso tempo livre, então meio que se tornou uma corrida contra o relógio! Por mais traumático que tenha sido, é divertido olhar para trás agora. 



MV: Muitos nomes mais obscuros do Melodic Rock e AOR do final dos anos 1980 e início dos anos 1990 vêm retomando as atividades. Você sente que há um interesse crescente do público por bandas desse gênero?

PD: Prefiro pensar que as pessoas têm sentido falta de boa música, ponto! Eu até gosto de uma coisa ou outra que toque hoje em dia, mas, convenhamos: o rock, ainda mais nos Estados Unidos, não corresponde mais a uma fatia generosa do mercado. Não existem mais rádios especializadas, por mais que ainda existam bandas. Todos só querem saber de quem está faturando milhões e obtendo milhões de visualizações. Vejo minhas bandas prediletas, todas com mais de vinte e cinco anos de estrada, excursionando e ganhando quase nada por isso. Felizmente, podemos sempre contar com os fãs da Europa e de outros lugares do mundo, que não se deixam levar pelos modismos. Adoro o fato de eles permanecerem fieis àquilo que amam.


MV: Você e o Kevin, ambos os membros fundadores do Rox Diamond, agora contam com os novatos Elliot e Mike na formação. Por que Ricky e Dwain acabaram ficando de fora?

PD: Quando decidi fazer este novo álbum, soube desde o começo que seria um longo caminho, pois todos nós temos nossos empregos e responsabilidades fora da banda. Kevin vinha até a minha casa duas vezes por semana para gravar as bases e os solos e overdubs. Dwain toca em cinco bandas diferentes, incluindo o Keel, então não pôde participar. O mesmo vale para Ricky, que toca numa banda local. Somos todos bons amigos e nos falamos com certa frequência até. Foi estranho não os ter ao meu lado nesta empreitada, mas Elliot e Mike são músicos incríveis.


MV: Elliot e Mike contribuíram na composição do álbum?

PD: Não. Eu compus todo o material e só os chamei para tocar quando já estava tudo pronto. Eu basicamente disse a eles o que fazer e como fazer. Kevin nem estava presente quando baixo e bateria foram gravados. Éramos nós três, sendo eu no teclado e vocal, e os dois tocando suas partes. Ambos fizeram um excelente trabalho! Mike foi incrível, adaptando seu estilo a cada música, e Elliot é um músico de jazz tarimbado, mas que entrou de cabeça no projeto a partir do momento que disse “eu topo!”.



MV: O press-release de “Let the Music Do the Talkin’” fala sobre trazer de volta boas lembranças. O que o ouvinte que ainda não correu atrás do álbum pode esperar dele?

PD: Eu diria que metade das faixas soa como o primeiro álbum do Rox Diamond, mas é óbvio que a gente muda um pouco conforme o tempo passa. Como cantor, compositor e arranjador, a gente evolui e, de certa forma, “amadurece”. Acho que isso transparece nas canções. Já a outra metade soa mais “atual”, com um tempero diferente de uma música para a outra, e isso me deixa muito orgulhoso. Há momentos que irão surpreender o ouvinte, e eu mal posso esperar para ler as resenhas. Espero de verdade que todos gostem!


MV: Vocês farão shows para promover o álbum?

PD: Ainda não sei. Estou aberto a essa ideia. Super consideraria juntar os caras novos com os antigos e montar uma super banda ao vivo! Tenho certeza que Ricky adoraria fazer parte disso. Ele é um excelente guitarrista e poderia dividir a tarefa com Kevin enquanto Elliot fica no baixo.



MV: Há planos de relançar os álbuns antigos?

PD: Por enquanto, não.


MV: O álbum de estreia do Rox Diamond é frequentemente citado como uma pérola do Melodic Rock. Apesar de ser bom pra caramba, ele não emplacou. A que você deve isso?

PD: Nós, assim como quase todas as bandas dos anos 1980 e início dos 1990, fomos dispensados pela gravadora da noite para o dia por causa do grunge. Eu poderia dizer que nós chegamos tarde demais na festa, que perdemos a grande chance. Acredito que essa seja realmente a causa. Amo todas as músicas da nossa estreia, e muita gente comenta comigo o quanto esse álbum é especial para elas. É um sentimento incrível!



MV: Até onde eu sei, o segundo álbum, “Powerdrive” (2005), não possui o mesmo apreço entre os fãs. Se você pudesse regravá-lo hoje em dia, o que faria de diferente?

PD: “Powerdrive” foi uma mistura de coisas novas com antigas demos em oito canais que masterizamos para o lançamento. Foi nesse período que decidi construir meu próprio estúdio, para nunca mais me preocupar com metas e prazos. Estará pronto quando estiver, e ponto final. Não fiquei feliz com o resultado. A produção foi péssima e todo o projeto foi uma má ideia desde o começo. Há canções muito boas ali, inclusive entre as demos, mas a gravação em si e a sonoridade são tão ruins que não fazem jus. O processo criativo não foi diferente, mas com uma produção ruim e uma equipe técnica inexperiente, o resultado só pode ser ruim. 


MV: Por que o “Live in Japan 1992” nunca foi lançado oficialmente em DVD ou qualquer outro formato fora do Japão?

PD: Houve um relançamento pirata nos Estados Unidos. Esteve disponível para sair oficialmente em DVD, mas nenhum selo demonstrou interesse. Como não detenho os direitos pela gravação, não há nada que eu possa fazer a respeito. Mas, assim como o primeiro álbum, o “Live in Japan 1992” é frequentemente citado por muita gente que diz que o adora, e isso é algo muito legal de se saber.



MV: Treze anos separam o disco de estreia de “Powerdrive”, e foram necessários mais treze anos até “Let the Music Do the Talkin’”. Espero que vocês lancem algo antes de 2031! [risos]

PD: Sabe-se lá o que o futuro nos reserva, meu amigo! Já possuo doze faixas prontas para serem gravadas, mas zero tempo para fazer isso. Vamos ver quando rola!


MV: Valeu pelo papo, Paul. Vamos terminar com você deixando o seu recado para os fãs do Rox Diamond no Brasil!

PD: Muito obrigado por todos esses anos de apoio e interesse na banda! Sempre ouço falar que os fãs de rock no Brasil estão entre os melhores do mundo. Meu carinho para todos e não se esqueçam de me dizer o que acharam do novo álbum!


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