ENTREVISTA: O metal oitentista e cervejeiro do Atlantis (BRA)


Fotos: Divulgação


O Atlantis não tem muita sorte com baterista; foram quatro de 2013 até hoje. Também teve problemas para lançar seu primeiro álbum; concluído em meados de 2019, o trabalho autointitulado dos catarinenses de Jaraguá do Sul só seria lançado em dezembro de 2020. 


“Chegou uma hora em que só queríamos lançar logo”, conta o guitarrista e vocalista Tino Barth. O baixista Fellipe França troca em miúdos: “Algumas coisas aconteceram em relação ao nosso produtor, ao cara que nos gravou, ao cara que mixou. Não que tenha sido culpa deles, mas acabou nos atrasando. O Edson [Luís de Souza], que gravou o CD, começou a trabalhar [em outro emprego] no meio da gravação, aí os horários começaram a ficar muito cagados, e tudo acabou virando uma bola de neve.”


A sorte sorriu para os garotos quando a Classic Metal Records entrou na jogada. “Comentei com o Denis [Pedro Zuliano, dono da Classic Metal Records] que a gente estava com o álbum pronto e ele revelou que era super a fim de trabalhar com a gente”, diz Barth. “Trocamos uma ideia e deu tudo certo.”



Faz sentido um selo cujo foco são lançamentos e reedições de bandas de heavy metal dos anos 80 apostar em uma banda como o Atlantis, que representa a chamada New Wave of Traditional Heavy Metal (NWOTHM). E foi um nome desse movimento que inspirou a rapaziada a fazer som autoral. Tino conta que “no começo a gente era basicamente um cover de Angel Witch. Só que aí eu conheci o Cauldron; molecada jovem que fazia som das antigas. Pensei: é isso que eu quero. Começamos a fazer música [própria] logo em seguida.”


Embora o som do Atlantis seja calcado no metal britânico de quatro décadas atrás, as letras assinadas por Barth e França não refletem uma realidade que não lhes pertence. “Tento escrever sobre coisas de que gosto”, diz o baixista. “Minha ‘pira’ é meio Iron Maiden; se acho massa um livro, vou lá e faço um som a respeito. Vide ‘Among the Stars’ [inspirada no livro Duna, de Frank Herbert]”. “Filmes também”, complementa o vocalista e guitarrista, citando “Quest for Vengeance”, inspirada no longa “Gangues de Nova York”.


Talvez a única letra fora dessa curva seja a de “London Ripper”, mas Barth explica o porquê: “Li numa reportagem que aparentemente haviam descoberto a identidade do Jack, o Estripador e comecei a ler a respeito dos assassinatos. Foi uma das primeiras músicas que compus para a banda, lá em 2014. Sempre foi meio que deixada de lado, mas decidimos que gravaríamos ela nesse primeiro álbum. Dá para ver que [musicalmente] é uma das mais simplesinhas.” [risos]



Para este bate-papo, Barth e França chamaram Bruno Eggert, batera que gravou o disco antes de se mudar para a Europa, onde vive atualmente. Eggert foi o que ocupou o posto por mais tempo. “Fiquei uns quatro anos na banda”, conta ele. “Do que mais sinto falta? Dos ensaios. A gente chegava no estúdio com uma caixa de cerveja — e um ‘corotinho’ — e ia fazendo jams, e acabava criando [músicas] nessas jams, os três juntos, inventando letra.” 


De acordo com França, “Muita coisa saía nos ensaios. Teve um épico em que fizemos ‘Dreaming City’ inteira e metade de ‘Quest for Vengeance’.” A produtividade foi comemorada com outra caixa de cerveja. “Se você reparar bem, em todas as fotos do encarte aparece uma latinha de Kaiser. É o nosso easter egg!”, ri o baixista.


Pelo WhatsApp, os três trocam sons entre si quase que diariamente. Peço para que cada um aponte, então, uma ou duas bandas que curte e que julga nunca terem recebido a devida atenção. Eggert começa: “Cloven Hoof, principalmente nos álbuns ‘Dominator’ (1988) e ‘A Sultan’s Ransom’ (1989)”. Barth cita o francês Sortilège e o paraguaio Arcano, responsáveis por fazê-lo ouvir mais bandas que cantem em seu idioma nativo, antes de levantar a bola para o corte impiedoso e quiçá polêmico de França: “O Rata Blanca, da Argentina, é uma banda para a qual o Brasil caga e que representa a América do Sul [a nível mundial] muito mais do que o Angra.”



“Atlantis” saiu há pouco mais de seis meses, mas um segundo álbum já está em andamento. “Está quase pronto, na verdade”, revela Barth. “Mas a ideia é lançarmos antes um compacto em vinil com duas músicas conceituais.” Pergunto o que esperar delas. A resposta de França: “Maior evolução nas letras. Estamos nos tornando menos introspectivos e colocando um pouco de nossas vidas.”


A prioridade número um da dupla para 2021 não poderia ser outra: tomar a vacina. “Depois, arrumar um batera, terminar as gravações tanto do compacto quanto do álbum e lançar o compacto”, elenca Tino. “Show já perdi as esperanças. Santa Catarina está o caos. Parece que a galera está levando [a pandemia] na brincadeira.” Segundo Fellipe, “Quando a situação começa a melhorar, a galera vai e lota as praias, né? Assim fica difícil.” E uma live? “Sem chances. Estamos há tempos sem ensaiar.”


As famosas últimas palavras não poderiam ter sido mais bem escolhidas em forma e conteúdo. França é o primeiro a falar: “A gente faz o som que gosta. Se aparecer quem goste, massa. Mas a nossa prioridade é ser verdadeiro àquilo em que acreditamos.” Espirituoso, Barth arremata: “Espero que a galera ouça, curta, preste atenção na vibe. Sei que não é o melhor álbum do mundo... mas, como diz o Boça [imita a voz do personagem de Hermes e Renato], ‘tem seu valorrr mêo’!”


Vó Lurdes curtiu isso. 



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