RESENHA: Tygers of Pan Tang – “Burning in the Shade” (Relançamento 2021)


Tygers of Pan Tang – “Burning in the Shade”
Lançado originalmente em 1987
Classic Metal Records – NAC. – 37min

Não é toda banda que consegue abraçar novidades sem perder referências. Menos ainda são as que conseguem mandar bem tocando um som tão díspar daquele que as consagrou. 

A aproximação do Tygers of Pan Tang com o hard rock se deu de forma lenta e gradual. A partir de “The Cage” (1982), o que antes eram flertes — muito graças ao estilo de tocar do guitarrista John Sykes nos clássicos “Spellbound” e “Crazy Nights” (ambos de 1981) —, tornaram-se meio que fio condutor. A indumentária da banda em “The Wreck-Age” (1985) já sinaliza uma total repaginada no visual. Dois anos mais tarde, “Burning in the Shade” — qualquer semelhança com a capa de “Head First” (1983) do Uriah Heep é mera coincidência — levou tudo ao perigoso extremo da descaracterização.


Se isso foi bom ou não, cabe ao ouvinte decidir. Eu curto, mas o fato é que, em seu sexto álbum de estúdio, os britânicos queriam era fazer frente aos lançamentos de hard rock contemporâneos e, para isso, lançaram mão de sua principal arma naquele tempo: a qualidade vocal de um John Deverill no auge. O vocalista, ao lado do batera Brian Dick — único remanescente da formação original —, serve de sustentáculo para o line-up completado por dois Steves, o Thompson (baixo e teclados) e o Lamb (guitarras e backing vocals).

Amparados pelo misto de coach e backing vocal Phil Caffrey — cantor do setentista Arbre e segredinho do Saxon em “Destiny” (1988) —, os quatro jogam tantas carnes na panela que certas horas mal dá para sentir o gosto do feijão. “Hit It” é uma começa com um teclado que é pura trilha incidental de filme. Para a bateria dessa e de outras, Dick adota uma timbragem tão artificial que beira o mecânico. Nos solos, muita punheta e muita alavanca, mas nada de escalas exóticas e delírios neoclássicos. 

As letras são um caso à parte. Para dar o match com músicas mais suaves, letras tão fofas/rasas quanto. “You’re the first / You’re the only one / You’re my dream / You’re my reason”, canta Deverill logo na abertura sem medo de ser feliz (e brega) “The First (The Only One)”. A antítese vem pouco depois; embora soe alto astral, “Dream Ticket” é a maior dor de corno. E por falar em chifres, eles ressurgem em “Are You There?”, que narra a jornada de um homem apaixonado e frustrado diante de um telefone que chama, chama, e ninguém atende. 


“Sweet Lies” saúda o Fleetwood Mac enquanto a sofrência da primeira metade de “Maria” dá lugar a um arrebatador pop de arena a partir do solo. O que se ouve em “Open to Seduction” (com direito ao célebre verso “I can read you like a book”) e “The Circle of the Dance” (do desfecho “Dance with me”) condiz com seus títulos. A dobradinha prepara o terreno para “The Memory Fades”, o ponto fora da curva, que transpira o velho Tygers em forma e conteúdo, ainda que incorporando tecladinhos que envelheceram mal. O refrão é o mais forte de todo o disco e a letra é um convite à reflexão.  

A presente edição nacional de “Burning in the Shade” lançada pela Classic Metal Records vem com slipcase e inclui encarte com texto, letras e fotos; do jeitinho que a gente gosta e merece.

Gostou? Compre o CD aqui

Comentários