ENTREVISTA: Fabio Lione escolhe os melhores discos de sua carreira


Como era de se esperar, o papo com Fabio Lione e Marcelo Barbosa não ficou restrito à turnê Rocking Your Life. Daí a ideia de publicar, começando pela parte do Fabio, os extras da conversa. Aqui, o italiano surpreende ao revelar quais discos dentre todos que gravou acredita que melhor representam seu talento e dá uma alfinetada no ex-colega de Rhapsody, Alex Starapoli, ao mesmo tempo em que deixa nas entrelinhas que os dias de power metal ao estilo medieval ficaram para trás.


Transcrição: João Marcello Calil

Fotos: Gustavo Maiato


Marcelo Vieira: Não é de hoje que se especula a respeito do lançamento de um álbum solo seu. Isso vai acontecer?

Fabio Lione: Há muitos anos venho reunindo ideias. Sempre que o Vision Divine, o Labÿrinth ou o Eternal Idol precisavam de músicas, eu as tinha. No “Ømni” (2018), do Angra, compus as melodias vocais de seis músicas. “Travelers of Time”, por exemplo, é uma melodia que eu já tinha.


MV: Então sempre aconteceu de você ter o material e o plano para gravar o disco, mas acabar usando as músicas em outras bandas?

FL: Sempre, sempre, sempre! [Risos.] Eu poderia ter gravado uns cinco ou seis álbuns. Ainda tenho algumas músicas, mas provavelmente vou utilizar com o Angra ou com as outras bandas. [Risos.] A gravadora italiana Frontiers Records já me escreveu uns quinze e-mails me pedindo para fazer um álbum solo. Também recebi propostas de uma gravadora alemã, mas não acho que esse seja o momento certo. Gostaria muito de fazer um álbum solo que não seja de power metal, mas de rock mais variado, com algumas baladas. Nada de blues ou rap, obviamente. [Risos.] Mas não quero fazer como no início do Rhapsody. Acho que algo nesse estilo não daria certo hoje em dia. Sem contar que meu gosto musical é diferente hoje em dia.



MV: Percebo que os fãs do power metal estão sempre querendo que os artistas e grupos façam sempre o mesmo disco, repetindo uma determinada fórmula. Isso acaba sendo um pouco chato, né? Você acha que o público do power metal deveria abrir a mente um pouco mais para outros estilos?

FL: É complicado, porque se você muda, reclamam que você mudou, mas se continua na mesma fórmula, podem reclamar que ficou repetitivo demais. [Risos.] Então a melhor maneira é fazer um trabalho natural, que represente o que a banda quer. O Angra gosta de fazer power metal; é algo natural, de coração. Mas também gosta de fazer power metal com elementos diferentes, pessoais. Andre [Matos], meu querido amigo, por exemplo, tinha uma voz bem característica, um estilo bem próprio; isso era importante. 

É lógico que você tem que saber até onde vai sua voz; se você tem uma voz de [Luciano] Pavarotti, por exemplo, chegar a tons mais altos é um pouco mais complicado. No começo, o Angra tinha um estilo meio Helloween misturado com elementos brazucas, mas era power metal e o Andre tinha uma voz para fazer power metal e ao mesmo tempo mantinha um estilo único, pessoal. Isso se transforma em algo que a galera vai gostar mais. Se em 2022 você somente tentar imitar Michael Kiske, escrever uma nova “Eagle Fly Free”, não vai dar certo. É preciso ter seu próprio estilo.



MV: De todos os trabalhos que lançou até hoje, qual considera que melhor representa você como compositor e intérprete?

FL: Boa pergunta. No primeiro álbum que gravei com o Athena [“Inside the Moon” (1995)], fiz todas as letras e todas as melodias vocais. O jeito de cantar é completamente diferente em cada música. Outro álbum de que gosto muito foi o último que lancei, “Zero Gravity”, como Turilli/Lione Rhapsody, em 2019. [O estilo] não tem nada a ver com o do Rhapsody original – o que era o objetivo, pois Luca [Turilli] e eu queríamos evoluí-lo, mantendo os coros e as orquestrações, mas soando muito mais progressivo, mais moderno, mais pesado, sem nada de medieval. Depois de 15, 20 anos de saga, não dá para fazer outra. Melhor deixar isso para a banda cover oficial! [Risos.] [N.E.: Fabio se refere ao Rhapsody, atual Rhapsody of Fire, que continua na ativa com o tecladista Alex Staropoli, seu líder e fundador, como único membro da formação original.]

Luca e eu queríamos que a banda se chamasse Zero Gravity, mas a gravadora e o empresário exigiram que usássemos o nome Rhapsody, então ficou Turilli/Lione Rhapsody, mas continuo achando que isso foi um erro, pois leva as pessoas a pensarem que se trata de uma continuação do Rhapsody original, sendo que não tem o mesmo estilo de composição, letras e vocais.



MV: A pandemia serviu para você refletir e, quem sabe, escrever letras inspiradas pelo isolamento e tudo o mais?

FL: Escrevi pelo menos 45 músicas, contando as que já gravei. Também reuni algumas ideias para o Angra, então, se os outros caras fizeram a mesma coisa, talvez tenhamos um disco novo em breve! [Risos.]


MV: Além da turnê acústica ao lado do Marcelo, quais são os seus planos para o final de 2021 e o começo de 2022?

FL: No momento está tudo um caos! [Risos.] Estão previstas a gravação de dois videoclipes para um álbum que gravei e não posso revelar no momento. Só posso dizer que os músicos são americanos. Escrevi todas as letras e melodias vocais, além de cantar. É heavy metal estilo Savatage; pesado, porém melódico. Esses músicos pertencem a bandas grandes e precisavam de um vocalista que também fosse compositor. Depois, tenho que finalizar um EP que gravei com uma banda italiana. Também estou compondo para um novo álbum que será lançado no final do ano que vem. Fora isso, estamos negociando novas datas da turnê com o Marcelo, pois recebemos ofertas para tocar em toda a América Latina e na Europa. Tirando o Bruno [Valverde], que está morando nos Estados Unidos, devo me encontrar com os caras do Angra em fevereiro ou março para compor novas músicas e traçar os planos para a banda. Ah, e preciso finalmente terminar a turnê com o Turilli/Lione Rhapsody! 


Confira as próximas datas da turnê Rocking Your Life:


Comentários