ENTREVISTA: Marcelo Barbosa fala sobre Almah, Angra e “Vera Cruz”


Chegou a vez de divulgar as perguntas off-topic feitas a Marcelo Barbosa quando da entrevista sobre a turnê Rocking Your Life ao lado de Fabio Lione. Respostas tão surpreendentes quanto maduras vindas de um dos principais guitarristas do Brasil na atualidade. Confira!


Transcrição: João Marcello Calil
Fotos: Gustavo Maiato


Marcelo Vieira: Recentemente a Shinigami Records relançou a obra completa do Almah em CD. Para você, qual a importância desses relançamentos?
Marcelo Barbosa: O Almah é uma banda muito importante para mim, tanto pessoal quanto profissionalmente. Foram dez anos de muito desenvolvimento pessoal e artístico, levando meu nome para além de Brasília, onde eu já era conhecido. Tenho convicção de que minha entrada no Angra foi resultado dessa história com o Almah; uma coisa levou à outra.

Fiquei muito feliz ao saber desses relançamentos. Aproveito para dizer que estou preparando um material muito legal: um songbook com todos os meus solos nos discos do Almah. Estará disponível num box junto com os CDs, que recebi por ser ex-integrante da banda. 


MV: Somados os discos do Almah e do Angra, qual você acha que melhor resume você como compositor e músico?
MB: Como cada trabalho foi lançado em uma época, cada um deles é retrato daquela época. Quando falamos de arte, se for feita de verdade, de maneira realmente natural, será um retrato daquele momento específico. Acho engraçado quando o público diz, por exemplo, que o Angra tem que gravar um novo “Temple of Shadows” (2004). Isso não vai acontecer. Se acontecesse, não ficaria tão bom quanto o original. 

Da mesma forma como o “Ømni” (2018) foi retrato de outro momento. Sou suspeito para falar, mas também foi muito especial. Cada disco teve sua importância. Se pararmos para pensar, não haveria o Marcelo do “Unfold” (2013) sem que houvesse o Marcelo do “Motion” (2011), ou dos discos que gravei com o Khallice anos atrás. Tudo se tornou parte da minha experiência. Tende-se muito a ver o álbum mais recente como o melhor ou o mais importante. Não que ele seja o melhor, até porque isso é subjetivo, mas por ser o mais próximo do artista que você é hoje.




MV: O Angra vem tomando uma direção mais progressiva e, em alguns aspectos, até experimental. O próximo disco, sucessor do “Ømni”, vai manter essa pegada ou, por conta da solenidade dos 30 anos de banda, a ideia talvez seja buscar um som mais tradicional, mais raiz?
MB: Raiz, raiz mesmo, acredito que não, embora eu não possa falar pelos cinco. Quando nos juntarmos para compor pode acontecer algo que vá por um lado que não foi o inicialmente planejado, aí o resultado acaba sendo outro. Mas, sim, faz sentido que, mais do que nunca, seja um álbum que represente toda a carreira da banda, mas sem abrir mão da essência do momento.




MV: A pandemia rendeu inspiração para compor?
MB: Sem dúvida. Acho que essa nova fase nos trouxe transformações pessoais e profissionais. Tenho certeza de que é impossível isso não estar refletido no próximo álbum e também no trabalho de qualquer pessoa que componha com a mentalidade de se expressar por meio da música.


MV: Para encerrarmos, uma curiosidade: Você ouviu o “Vera Cruz”, novo álbum do Edu Falaschi?
MB: Não ouvi, cara, eu juro! [Risos.] Para não dizer que não ouvi nada, ouvi o começo da música que a Elba Ramalho canta [“Rainha do Luar”], pois fiquei curioso quando soube que ela tinha gravado. Não ouvi o álbum completo por alguns motivos. Primeiro, peguei uma mania, por causa dos vídeos de “reacteaching” que faço no meu canal no YouTube, de sempre fazer um vídeo desse tipo na primeira vez que ouço uma música. 

Tem outro ponto que talvez seja inconsciente, mas faz sentido mencionar: tenho certeza de que é um bom disco. O Edu é um excelente compositor, um cara incrível, e só tem músico casca-grossa tocando com ele. Tenho certeza absoluta de que é um sonzão, mas a partir do momento em que eu ouvir, vou me colocar numa situação em que terei que dizer o que achei, e qualquer resposta que não seja “é a oitava maravilha do mundo” vai ser um prato cheio para boa parte do público que gosta de fomentar uma treta. Sendo assim, fico mais confortável não ouvindo do que tendo que ouvir e dar minha opinião. É óbvio que, como em qualquer obra, haverá coisas que eu talvez fizesse diferente, mas não quero ser colocado nessa posição porque amo nossos fãs, por mais que saiba que alguns podem ser muito manipuladores. 

Estou numa posição muito chata nisso, pois eu tocava com o Edu, o Diogo [Mafra, ex-guitarrista do Almah] e o Raphael [Dafras, ex-baixista do Almah]. Ou seja, grande parte da banda do Edu era a banda em que eu tocava, então qualquer opinião minha que não seja elogiosa será levada para outro caminho. [Risos.]


MV: Você está certo. A patrulha do “Angraverso” não dorme! 
MB: Exatamente! [Risos.] Talvez por isso eu venha adiando essa audição, mas vou ouvir um dia, com certeza. Eu também poderia ouvir e mentir no que fosse preciso, mas não gosto de mentir, então tenho adiado esse momento.


Confira as próximas datas da turnê Rocking Your Life:




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