ENTREVISTA com Udo Dirkschneider: “Sou um grande fã de Tina Turner!”

 


Em 22 de abril, Udo Dirkschneider lançou, pela Atomic Fire Records, seu primeiro álbum solo. Intitulado “My Way”, o trabalho traz versões para 17 músicas de artistas e bandas que influenciaram o vocalista, conhecido por seus discos no Accept e à frente do U.D.O. Embora o giro previsto por terras tupiniquins tenha sido adiado novamente em razão da Covid-19, Udo, que já está vacinado, bateu um papo com este jornalista e não fugiu nem mesmo das perguntas mais polêmicas. Boa leitura!


Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: Em primeiro lugar, parabéns pelo 4º lugar nas paradas alemãs!

Udo Dirkschneider: Oh, obrigado! Muito obrigado!


MV: Na sua opinião, essa posição tão alta no ranking é porque um álbum de covers como o “My Way” acaba atraindo um público que não é necessariamente o do heavy metal?

UD: Talvez, embora você também possa estar viajando! [Risos.] Sei lá, não acho que seja tão normal assim um álbum de covers chegar tão alto nas paradas, mas esse 4º lugar significa que muita gente gostou do álbum.


MV: O press-release diz que “My Way” é o seu álbum mais pessoal até hoje. Você concorda ou isso é papo de assessor?

UD: Concordo, pois as músicas desse álbum são as minhas músicas favoritas que eu ouvia nos anos 1960, 1970 e início dos anos 1980. Então, quando chegou a hora de definir um repertório, eu quis cantar, obviamente, todas elas.


MV: Podemos dizer que “My Way” foi o seu “bebê da pandemia” ou já estava nos planos gravar um álbum de covers um dia?

UD: Definitivamente não estava nos planos. Foi uma “gravidez por acidente”! [Risos.] Havíamos decidido fazer uma versão de “Faith Healer” [de Alex Harvey], que acabou ficando muito boa. Lá pelas tantas, vieram me perguntar se eu não gostaria de gravar um álbum inteiro de covers. Respondi que achava isso meio arriscado, mas depois de apresentar a proposta à gravadora, recebi carta branca para tocar o projeto em frente e daí surgiu o “My Way”.



MV: Por que, na sua opinião, poderia ser meio arriscado gravar um álbum de covers?

UD: É muito fácil as pessoas, tendo as gravações originais em mente, acharem que você fez um péssimo trabalho e coisas assim. Mas acho que neste álbum eu consegui imprimir a minha marca, a minha voz, de modo que todas as músicas ganhassem contornos diferentes. Repare só como mexemos em alguns arranjos e deixamos algumas músicas um pouco mais aceleradas para que minha voz se encaixasse bem. No fim das contas, acredito que tenha funcionado!


MV: Ao apresentar esse repertório para os seus fãs, você sente que de certa forma os está educando para além do heavy metal?

UD: Sinto, mas, veja bem, há um pouco de heavy metal neste álbum; músicas como “Jealousy” [de Frankie Miller], “My Way” [de Frank Sinatra] “Paint It Black” [dos Rolling Stones] e “Nutbush City Limits” [de Ike & Tina Turner] receberam uma roupagem bem pesada. Lógico que muitas pessoas ainda assim estranharam, “Como assim o Udo está cantando Tina Turner?” Mal sabem elas que sou um grande fã da Tina! [Risos.]


MV: Pela primeira vez você gravou uma música em alemão. Como se sentiu por finalmente ter podido cantar na sua língua materna?

UD: Olha, foi bom, mas também foi a coisa mais difícil que já fiz. Nunca sequer cogitei em cantar em alemão, esta foi a primeira vez, e não foi nada fácil. Inicialmente, pensei: “Ok, é a minha língua materna, aqui vamos nós, vai ser moleza”. Eu não poderia estar mais equivocado. O alemão é um idioma muito difícil, e depois de tanto tempo cantando e pensando em inglês, custei até acertar todas as palavras em alemão. Foi dureza, mas, no fim das contas, acho que valeu a pena.



MV: Como ouvir outros estilos musicais ajudou você a se tornar um cantor de heavy metal mais completo?

UD: Bem, quando estou em casa não fico ouvindo apenas Iron Maiden, AC/DC, Motörhead e coisas assim. [Risos.] Tenho uma mente muito aberta para a música; ouço pop, hard rock e duas estações de rádio muito boas aqui da Alemanha que tocam de tudo. Acho que, como músico, você tem que ter a mente aberta; tem que estar aberto a novos sons. Isso, na minha opinião, torna toda a experiência muito mais interessante.


MV: Além dos que ouvimos em “My Way”, que outros artistas compõem o seu background musical? 

UD: Olha, eu ouço e gosto de quase tudo. Houve um tempo em que fui viciado em Jimi Hendrix. Também sou fã do Prince e de um cara alemão chamado [Herbert] Grönemeyer. Ouço muita música clássica e gosto de algumas poucas óperas.


MV: A experiência de gravar “My Way” foi legal a ponto de você considerar a possibilidade de gravar um volume 2?

UD: Lógico. Há algumas músicas que eu gostaria de ter gravado e não gravei. Nos divertimos muito, sem dúvida, mas agora vou concentrar todos os meus esforços no próximo disco de inéditas.


MV: Passa pela sua cabeça levar o “My Way” para os palcos ou o projeto ficará restrito ao CD de estúdio?

UD: Veremos. Talvez toquemos uma coisa ou outra na turnê que está para começar. Tudo vai depender de como forem os ensaios. A princípio focaremos nas músicas do U.D.O., mas nunca se sabe.


MV: Infelizmente, a turnê que você ia fazer pelo Brasil teve de ser adiada mais uma vez. Mas você tomou as vacinas contra a Covid-19, certo?

UD: Sim, sim. As duas doses e a dose de reforço.



MV: Recentemente, saíram no Brasil as Platinum Edition dos quatro primeiros álbuns do Accept...

UD: Ah, sim. Essas foram edições especiais que a AFM [Records, gravadora] lançou aqui [na Europa]. Não trazem novas mixagens nem nada de novo, mas que bom que saíram aí. 


MV: Outro álbum que saiu recentemente no Brasil foi o “Animal House” (1987) [do U.D.O.]. Você poderia falar um pouco sobre ele?

UD: Depois do álbum “Russian Roulette” (1986), eles [o Accept] decidiram fazer algo mais na linha do Bon Jovi ou qualquer outra banda do tipo. Então me disseram que eu estava fora; não, não fui eu que saí do Accept, foram eles que me demitiram. Enfim, eles queriam mudar de estilo, e para mim foi muito bom isso, porque o “Animal House” é um álbum excelente. Tive a sorte de ter todas aquelas músicas à disposição e, na sequência, fiz turnês pela Europa e pelos Estados Unidos; esta ao lado do Guns N’ Roses e da Lita Ford. O resto é história.


MV: Muito se fala do fato de “Balls to the Wall” (1983) ser o clássico absoluto do Accept, mas o álbum que alcançou a posição mais alta nas paradas foi o “Russian Roulette”.

UD: Sim. O “Russian Roulette” e o “Metal Heart” (1985) venderam muito bem na Alemanha e em toda a Europa. Já o “Balls to the Wall” foi o responsável pelo nosso estouro na América do Norte, embora tenha vendido menos lá do que o “Russian Roulette”. De todo modo, a faixa-título [do “Balls to the Wall”] ainda é o maior clássico do Accept.


MV: Você se lembra o que achou quando ouviu o “Eat the Heat” [álbum de 1989 que o Accept gravou com David Reece nos vocais] pela primeira vez?

UD: Gostei de algumas músicas, mas não senti que era um álbum do Accept, sabe? E as vendas baixíssimas deixaram isso nítido; as pessoas ficaram se perguntando, “que p#rra é essa?”. Eles fizeram só uma turnê pelos Estados Unidos e, depois de seis semanas, se separaram.


MV: E você tem opinião formada sobre o Accept com Mark Tornillo nos vocais?

UD: Acho o Mark um bom cantor e acho que ele está fazendo um bom trabalho. Desejo tudo de melhor a ele.



MV: Considerando todos os álbuns que você gravou, qual, na sua opinião, resume melhor você como artista?

UD: Impossível mencionar um só! [Risos.] Do Accept, para mim, ainda é o “Breaker” (1981), pois foi nele que encontramos nosso som e a direção. Com o U.D.O., o álbum mais importante foi o “Faceless World” (1990), no qual fiz algumas coisas diferentes, incluí alguns teclados etc. Mas também poderia citar o “Steelfactory” (2018) e o “Game Over” (2021).



MV: E se você tivesse que escolher uma música do seu repertório como a mais importante que já gravou, qual seria?

UD: Acho que “One Heart One Soul” [do “Steelfactory”]. Para mim, tem tudo nela: melodia, um bom riff de guitarra e todo o resto.


MV: Ela está no repertório da próxima turnê?

UD: Com certeza! Não só ela, mas outras músicas do “Steelfactory”. Por mais difícil que seja montar um setlist hoje em dia — são tantos álbuns! —, algumas músicas simplesmente não podem ficar de fora!


MV: Vamos encerrar com um recado para os fãs brasileiros?

UD: Lógico! Vejo vocês muito em breve! Espero que nada de ruim aconteça nesse ínterim, pois estou ansiosíssimo para voltar ao Brasil e à América do Sul! Sei que os fãs estão muito entusiasmados, e eu garanto: vai haver muita diversão! Enquanto isso, “stay heavy” e com saúde!



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