ENTREVISTA: Michael Stützer fala sobre novo álbum ao vivo e processo criativo do Artillery

 


Guitarrista e fundador da lendária banda de thrash metal Artillery, Michael Stützer oferece uma visão fascinante sobre os bastidores da música e a evolução da banda ao longo de 41 anos de carreira. Ele compartilha insights sobre as recentes mudanças na formação, destacando a saída de membros e a entrada de novos talentos, enquanto enfatiza a importância de manter a identidade musical característica do grupo. Também discute o aguardado lançamento do disco ao vivo “Raw Live” (Mighty Music) nesta sexta-feira (2), uma homenagem póstuma ao falecido baterista Josua Madsen, capturando a energia única de um concerto no Copenhell, festival realizado no território natal da banda, na Dinamarca.

Além disso, a entrevista destaca o relançamento dos icônicos álbuns “Fear of Tomorrow” (1985 - leia a resenha aqui) e “Terror Squad” (1987 - leia a resenha aqui) no Brasil pela parceria Voice Music/Rock Brigade Records, proporcionando uma visão única sobre a contribuição do Artillery para a cena musical dinamarquesa e o desenvolvimento do thrash metal. Por fim, Stützer compartilha reflexões sobre a experiência da banda no Brasil, expressando entusiasmo pela receptividade calorosa, as diversas locações de shows e os planos futuros para retornar ao país. 

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira

Transcrição: Beatriz Cardoso

Fotos: Divulgação / facebook.com/ARTILLERY.DK


Marcelo Vieira: Pra começar, eu gostaria que você falasse um pouco sobre as mudanças na formação recente do Artillery e o que as causou.

Michael Stützer: Michael [Bastholm Dahl], nosso antigo vocalista, teve alguns problemas familiares que precisava resolver. Não podia viajar e fazer turnês devido a um divórcio recente e a questões relacionadas ao filho. Além disso, talvez estivesse um pouco cansado da rotina. Foi uma decisão dele, e continuamos amigos. Kræn [Meier, guitarrista] queria seguir seus próprios projetos, tocar algo mais pesado, e não conseguimos concordar sobre a direção musical. Assim, ele deixou a banda, mas saiu numa boa. Agora, temos dois novos membros, o guitarrista René Loua e o vocalista Martin Steene, que trazem novos elementos à banda.


MV: Mudanças na formação são comuns em bandas. Você acredita que, enquanto estiver na banda, o Artillery soará como o Artillery?

MS: Espero que sim, pois estou na banda desde o início. Acredito que minha presença é crucial para manter o som característico do Artillery. No entanto, os outros membros, especialmente Peter [Thorslund, baixista], que está na banda desde 1988, são músicos incríveis. Atualmente, estamos em ótima sintonia e animados para tocar ao vivo. Temos uma turnê na Dinamarca e planejamos ir aos Estados Unidos no próximo ano.


MV: Ser o único responsável pela manutenção do som característico da banda é uma grande responsabilidade?

MS: Sim, é sempre difícil, mas os novos membros também contribuem muito. Queremos manter a fidelidade ao som do Artillery, embora às vezes incorporemos elementos diferentes. A responsabilidade é grande, mas faço o meu melhor, esperando que as pessoas reconheçam.


MV: Você considera as expectativas dos fãs ao compor ou gravar um álbum?

MS: É um equilíbrio. Começamos com um riff e construímos a partir daí. Às vezes, pensamos nos fãs, outras, experimentamos coisas novas. Fico impressionado quando os fãs que gostam do Artillery elogiam músicas que fogem do padrão. Acho isso legal, pois mostra que, por mais diferentes que sejam, ainda carregam a essência do Artillery.


MV: Ao longo dos anos, o Artillery passou por várias fases musicais. Como você descreveria a evolução da banda desde sua fundação até hoje?

MS: Em 41 anos, é natural haver algumas mudanças, mas mantemos as raízes. Quando começamos, queríamos ser mais rápidos e brutos. Bandas como o Black Sabbath e, posteriormente, o Metallica tiveram um grande impacto. Tentamos manter essa essência, introduzindo mudanças sutis para evitar a monotonia.


MV: E como você rotularia a música do Artillery hoje?

MS: Sempre a chamei de thrash metal melódico com elementos dos anos 1970 e 1980. Essa identidade percorre nossos álbuns, desde “Fear of Tomorrow” até os mais recentes. Queremos preservar essa sonoridade.



MV: O Artillery está prestes a lançar o álbum ao vivo “Raw Live”. Como foi a experiência de gravar isso?

MS: Foi incrível. Tocar em casa, em um grande festival na Dinamarca, na presença de amigos e fãs, criou uma atmosfera única. As pessoas estavam animadas, e a qualidade sonora é incrível.


MV: Como vocês escolheram o repertório para esse show e como a atmosfera do evento influenciou a performance e o resultado final?

MS: Tentamos incluir músicas principais que sempre tocamos, como “Khomaniac” e “Terror Squad”. Queríamos representar cada álbum, mas não conseguimos devido ao tempo. Infelizmente, a música “The Almighty” acabou ficando de fora.


MV: Gravar um álbum ao vivo apresenta desafios e recompensas únicos. Quais foram alguns desses?

MS: Certas músicas, como “Khomaniac” mesmo, ganham vida no palco com a interação do público. Festivais são um ótimo lugar para conquistar novos fãs. Quanto a desafios, manter a autenticidade, sem alterações em estúdio, é essencial. Ademais, este álbum é uma homenagem ao nosso falecido baterista, Josua [Madsen, morto em 2023].



MV: Recentemente, os álbuns “Fear of Tomorrow” e “Terror Squad” foram relançados no Brasil. Como foi criar o “Fear of Tomorrow”? Você sentiu que estava fazendo algo completamente diferente na época?

MS: Sim, no início, as pessoas não entendiam nosso som, mas queríamos ser mais rápidos e pesados. Inspirados por bandas como Accept, buscávamos algo distinto. As mudanças foram bem recebidas, e hoje me orgulho de ser considerado um dos pioneiros.


MV: Qual a contribuição do “Fear of Tomorrow” para a cena musical dinamarquesa da época e para o desenvolvimento do thrash metal a nível global?

MS: Fomos uma das primeiras bandas dinamarquesas com um som tão pesado e sombrio. Antes de nós, só havia o Mercyful Fate. Tivemos a sorte de contar com fãs dedicados, apesar da resistência inicial das casas em nos abrir espaço. Essa contribuição precoce foi crucial para nós.


MV: Houve uma progressão significativa no som do Artillery do “Fear of Tomorrow” para o “Terror Squad”. De que maneiras a banda evoluiu?

MS: Tornamo-nos músicos melhores e exploramos diferentes estilos, mantendo uma abordagem original. Queríamos nos desafiar, como em “The Challenge”, que era como um thrash metal muito mais pesado. Comparado ao “Fear of Tomorrow”, tínhamos nos tornado músicos muito melhores naquela época.


MV: As letras do “Terror Squad” chamam muita atenção, com críticas e revolta. Pode compartilhar algo sobre isso e se houve alguma fonte ou inspiração específica na época?

MS: Algumas letras foram escritas pelo Morten [Stützer, baixista, morto em 2019]. “Terror Squad” foi inspirada em experiências pessoais, como confrontos com a polícia. “The Challenge” aborda os desafios globais. As letras refletem situações vividas e questões relevantes da época.



MV: O Artillery ficou inativo por cinco anos entre 1993 e 1998. Olhando para trás, foi realmente necessário esse intervalo após o que é considerado o álbum mais clássico, “By Inheritance” (1990)?

MS: Sim, na época do “By Inheritance”, havia desavenças internas sobre tocar ao vivo. Alguns membros não estavam tão interessados em cair na estrada, o que causou problemas. Hoje, tocamos muito e temos um relacionamento muito bom, mas naquela época, as prioridades eram diferentes.


MV: O que você aprendeu nesse período e pôde colocar em prática ao reunir a banda para o álbum “B.A.C.K.” (1999)?

MS: Aprendemos muito sobre o que não fazer. A constância é crucial, com muitas entrevistas, relações públicas e turnês. Se você lança um álbum e não faz muitos shows, pode perder relevância. Tocar ao vivo é essencial, especialmente hoje, quando é difícil vender CDs e vinis.


MV: Pensando na discografia da banda, qual você considera seu melhor ou mais importante trabalho e por quê?

MS: Sempre é difícil dizer. Muitos consideram “By Inheritance” como o melhor. Álbuns como “When Death Comes” (2009) foram importantes, reiniciando tudo. O próximo álbum que vamos fazer também será crucial. Pessoalmente, mudo de opinião, considerando um álbum o melhor em um dia e outro no dia seguinte.


MV: Qual legado você espera deixar quando o Artillery se aposentar dos palcos e das gravações?

MS: Espero que as pessoas lembrem de nós pelo empenho ao tocar ao vivo e por buscar originalidade em nossas músicas. Quero ser lembrado como uma boa pessoa, alguém realmente dedicado ao metal que tocamos.



MV: Poderia falar um pouco sobre as experiências da banda no Brasil? Foram três ou quatro vezes até agora, certo?

MS: Adoro tocar no Brasil, onde temos muitos amigos e um público incrível. As experiências são sempre ótimas, desde shows em São Paulo, Rio de Janeiro, Recife até lugares diferentes, como um palco em uma rodovia. Estamos trabalhando para voltar no próximo ano.


MV: Além do lançamento do novo álbum ao vivo, quais são os planos futuros para o Artillery?

MS: Estamos em turnê pela Dinamarca em fevereiro e indo para os Estados Unidos em março e abril, com planos de retornar em junho para mais shows. Também estamos organizando alguns shows na Ásia e, possivelmente, na América do Sul no início de 2025. Mantenham-se atentos!


MV: Alguma mensagem especial para os fãs do Brasil?

MS: Como mencionei, faremos o possível para voltar no início de 2025. Os fãs são sempre incríveis, e mal posso esperar para voltar ao Brasil. Tivemos experiências maravilhosas aí, e há muitas coisas boas acontecendo. Espero vê-los em breve!



https://artillery.dk/ 


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