ENTREVISTA: Tony Dolan fala sobre Venom Inc., lançamentos recentes e o Kool Metal Fest

 


O Kool Metal Fest está se aproximando, prometendo uma noite épica para os fãs de metal na capital Paulista no próximo dia 9 (ingressos aqui). E um dos headliners do evento será o Venom Inc.

O Brasil tem um lugar especial no coração do grupo, especialmente para o vocalista e baixista Tony Dolan, que tem uma conexão profunda com o país. Com uma longa história de apresentações memoráveis em várias cidades brasileiras, ele considera o Brasil como um segundo lar. A energia, as pessoas e a cultura local criam uma atmosfera acolhedora e familiar para a banda, que está ansiosa para mais uma vez levar sua música aos fãs brasileiros, oferecendo aos espectadores uma experiência intensa e memorável.

A ausência de Mantas devido a um recente ataque cardíacoataque cardíaco, levanta suspeitas e preocupações, mas Tony garante que ele e os colegas estão solidários e comprometidos em apoiá-lo durante sua recuperação.

Por fim, Dolan discutiu diversos aspectos, incluindo “There’s Only Black” (2022), o mais recente álbum do Venom Inc.; os discos que gravou com o Venom entre 1989 e 1992, e “Future Warriors” (1985), trabalho de estreia do Atomkraft, recém-lançado em CD no Brasil pela parceria Voice Music/Rock Brigade Records.

Boa leitura!


Por Marcelo Vieira


Como está a saúde de Mantas após o recente ataque cardíaco?

Fisicamente está bem, mas está assustado. Em razão disso, não se sente mentalmente capaz de comprometer-se com shows. O medo de morrer durante uma viagem o assombra. Terapia e apoio emocional são essenciais para ajudá-lo a superar essa angústia. Ele precisa descansar. Enquanto isso, seus colegas continuarão a apoiá-lo e esperar por sua recuperação completa.


Como a banda está lidando com a ausência dele?

Quando o Jeff [Dunn, Mantas] não pôde participar de uma turnê americana devido a problemas pessoais, convidei o Mike Hickey, que já tinha tocado com o Venom antes. Mais tarde, na América do Sul, como o Mike não estava disponível, convidei o Marc Jackson para substituí-lo. Nesse ínterim, o Jeff teve seu segundo infarto, o que foi devastador. Mas conheci o Curran Murphy, líder da banda 72 Legions, e pensei que ele poderia preencher a vaga. Ele tocou conosco em Jacarta e foi incrível. Os shows têm sido ótimos e decidimos continuar assim até que o Jeff esteja pronto para voltar. Os fãs estão recebendo bem e não há pressão sobre o Jeff. Os shows com esse novo line-up têm sido incríveis e estamos animados para continuar.



Vocês já tocaram aqui antes e vão tocar mais uma vez no dia 9 de junho. O que o Brasil significa para o Venom Inc.?

O Brasil sempre teve um lugar especial no meu coração desde os meus 14 anos. Já visitei o país várias vezes, tocando em cidades como Curitiba, Porto Alegre, Rio de Janeiro e São Paulo. Sinto uma conexão profunda com a América Latina, mas o Brasil é como um segundo lar para mim. Não sei explicar, mas quando estou aí, é como se estivesse voltando em casa. A energia, as pessoas, a comida; tudo me faz sentir acolhido. O Brasil é parte de quem eu sou, e isso é algo que valorizo muito.


A última visita do Venom Inc. ao país foi cancelada por motivos ainda não esclarecidos. O que exatamente aconteceu?

Foram diversos problemas, incluindo falta de informações e atrasos na organização. Não foi uma decisão nossa cancelar, mas sim uma série de complicações que enfrentamos. Estou ansioso para compensar isso agora, especialmente ao tocar com o Possessed.



O álbum “There’s Only Black” parece abordar temas mais atuais e engajados do que os trabalhos anteriores do Venom. O que os motivou a abordar tópicos como a pandemia, desinformação e populismo?

Desde “Parasite”, em “Prime Evil” (1989), exploro temas como a corrupção governamental e a dualidade humana, questionando a moralidade de nossas ações. Reflito sobre como, ao mesmo tempo em que realizamos atos altruístas, também contribuímos para problemas como a criação de armas nucleares. Essa dualidade é recorrente na história da humanidade e nas guerras, e são sempre as pessoas que sofrem as consequências das decisões políticas, enquanto os líderes permanecem distantes e protegidos. 



Mas como um todo, “There’s Only Black” deriva de um projeto mais amplo sobre a jornada da vida e a insignificância das conquistas e crenças diante da morte. Essa reflexão surgiu quando Mantas me enviou a faixa-título. A letra dele descreve sua experiência de quase morte, na qual não viu luzes ou anjos, apenas escuridão. Isso me fez questionar a natureza da existência e o que acontece após a morte. Por isso a decisão de simplificar a capa do álbum, colocando um buraco negro, símbolo do desconhecido, convidando os ouvintes a explorar as perguntas fundamentais sobre a vida e a morte.



Entre 1989 e 1992, você gravou três álbuns de estúdio com o Venom. Entre eles, qual é o seu favorito?

“Prime Evil” foi um álbum crucial para o Venom, e eu participei ativamente na composição de cerca de 60% das músicas. Trabalhar nesse projeto foi emocionante para nós, e o resultado final foi incrível e significativo para todos.

“Temples of Ice” (1991) foi uma decepção em termos de arte de capa, na minha opinião. Não participei da criação e não gostei do resultado. Apesar das boas faixas e performances energéticas, a produção não alcançou o mesmo padrão de qualidade de “Prime Evil”, o que o afetou negativamente.

“The Waste Lands” (1992) teve uma produção melhor, mas a capa novamente deixou a desejar, sem relação com as músicas. Apesar disso, o álbum continha ótimas faixas. 

Acho que em vez de escolher um favorito entre eles, eu poderia combinar as melhores músicas de cada um para criar um álbum excelente, se fosse produzido corretamente.

Dito isso, cada álbum do Venom é único, refletindo uma evolução constante e uma abordagem distinta. Eles valorizam a diversidade, incorporando elementos do black metal na produção de maneiras diferentes a cada lançamento. Isso é uma característica distintiva da banda, preferindo singularidade sobre repetição.


A sequência “Avé” (2017) e “There’s Only Black” exemplifica bem isso.

Concordo. Duas abordagens diferentes e intensas para a produção, refletindo a diversidade de temas. “There’s Only Black” foi mais cru e veloz [que “Avé”], capturando a urgência da banda ao vivo. O álbum busca transmitir a sensação de que o tempo passa rápido, com a esperança de que os ouvintes sintam o desejo de retornar após terminar de ouvir.


Você acha que a passagem do tempo deu a “Prime Evil”, “Temples of Ice” e “The Waste Lands” a importância que merecem e a reverência que acabaram não tendo na época?

“Prime Evil” é frequentemente citado como subestimado, mas sua presença é evidente em todos os lugares que vou. O álbum recebeu críticas positivas e teve boas vendas na época de seu lançamento, desafiando as expectativas após a saída dos membros originais. Agora, especialmente com o surgimento do Venom Inc., há um interesse renovado em “Temples of Ice” e “The Waste Lands”, que estão sendo revisitados e apreciados por um público mais amplo.



Eu gostaria de falar sobre o Atomkraft, já que o álbum “Future Warriors” foi recentemente relançado em CD no Brasil.

A inspiração para o Atomkraft veio em 1978, quando assisti ao Motörhead e ao The Dickies, minha banda punk favorita na época. Vi Karlos Kaballero, baterista do The Dickies, tocando a 220 batidas por minuto, algo inédito. Imaginei combinar essa velocidade com o som do Motorhead, e assim nasceu o Atomkraft. Em 1985, não tínhamos mais os membros originais, então recrutei dois novos músicos e gravamos o álbum “Future World” para a [gravadora] Neat. Embora não tenha sido exatamente como planejado inicialmente, ao revisitar e tocar esse álbum inteiro ao vivo, percebi que capturamos a essência do Atomkraft.



A resposta ao relançamento tem sido incrível. Inicialmente, não estava muito envolvido no projeto, mas agora vejo o álbum em todos os lugares, as pessoas trazendo para os shows, e até me perguntando se vamos tocar Atomkraft. É engraçado, porque venho trabalhando em um novo álbum do Atomkraft por cerca de 20 anos, sempre me desviando para outros projetos. Recentemente, voltei para as fitas originais e comecei a reescrever as músicas. Dentro de dois ou três meses iniciarei a produção desse novo álbum, possivelmente como um precursor ou uma sequência do “Future Warriors”, seguindo a mesma linha clássica do Motörhead com apenas três membros.


Nos anos 1980, o Atomkraft era frequentemente comparado ao Venom. Havia alguma rivalidade entre as bandas?

Quando começamos, éramos apenas bandas locais. O sucesso parecia distante. Mas quando o Venom lançou seu primeiro single [“In League with Satan / Live like an Angel (Die like a Devil)”] em 1981, isso mudou minha perspectiva. Era inspirador ver pessoas conhecidas alcançando algo grande. Quando precisei de novos membros para a banda, o irmão do empresário do Venom, Eric Cook, sugeriu Ged [Wolf, baterista], que havia acabado de sair do Tysondog. Fizemos testes e nos demos bem, então seguimos em frente juntos.

Quando precisamos de um novo guitarrista, testamos vários, mas nenhum se encaixava. Abaddon [baterista do Venom] sugeriu um jovem de 16 anos que conhecia chamado Rob Mathew. Fui vê-lo tocar e fiquei impressionado. Ele se juntou à banda para gravar o álbum. Nossa primeira turnê foi com o Slayer, seguida por uma com Exodus e Venom. Bons momentos. Não tinha essa de rivalidade; éramos bons amigos.



Para encerrarmos, o que você pensa da cena atual do heavy metal?

Eu, particularmente, adoro quebrar as barreiras entre gêneros musicais. Jeff Becerra [vocalista do Possessed] e eu queríamos fazer isso, combinando elementos clássicos de black metal com death metal. A reação é explosiva, o que mostra que gêneros diferentes podem se misturar. Gostaria que não houvesse divisões tão rígidas entre os estilos musicais.



Atualmente, temos bandas lendárias como Metallica e Judas Priest ainda ativas, junto com outras como Deep Purple explorando novos territórios. Há também o fenômeno Rammstein e a cena thrash alemã, além do metal vindo dos Estados Unidos e do black metal nórdico. A América Latina também está produzindo uma quantidade incrível de bandas progressivas e inovadoras.

É incrível ver os melhores músicos reunidos, independentemente dos gêneros. Eles são verdadeiramente talentosos e é uma explosão de criatividade. Se eu tivesse 16 anos agora, seria o melhor momento para me envolver com música, pois há uma diversidade e qualidade incríveis em todos os estilos. É maravilhoso fazer parte disso.



Comentários