Um super-herói num mundo sem heróis

 


Teve gente que riu, pensou que fosse piada. Outros não entenderam, ou mesmo desdenharam — o típico desdém daqueles que creem que rock é só uma fase; que ouvir rock e usar camiseta de banda após certa idade é assinar atestado de imaturidade. “Aff, esses roqueiros; não crescem!”

Mas estava lá, nos agradecimentos do meu TCC em Jornalismo, entregue à banca avaliadora em dezembro de 2014: “Ao Kiss, super-heróis num mundo sem heróis.” Fala sério, só isso já merecia um 10.

A importância do Kiss na minha vida — para além daquele momento em que a banda é a coisa mais importante da vida de qualquer moleque — não pode ser medida por, sei lá, discos na coleção, vezes em que os vi ao vivo (“Show do Kiss é melhor do que b*ceta”, escrevi certa vez) ou tempo investido em leitura, pesquisa, dissertação e discussões (vira e mexe acaloradas — afinal, estamos falando da banda mais quente do mundo).

A bem da verdade, a importância do Kiss na minha vida pode ser exemplificada pela gratidão que sinto pelo fato de, graças ao Kiss (e por meio do Orkut, sejamos justos), eu ter conhecido os melhores amigos que eu poderia desejar ter — ou, parafraseando a terminologia adotada no supracitado trabalho acadêmico, “a melhor banda da qual já fiz parte”. Hoje aceito o quão m*rda foi essa definição que, à época, pareceu bem boa.

E desde que esse grupo tomou forma, houve, sim, baixas no KISSWorld. Periféricos de grande importância, como Mark St. John ou o sempre a postos Bob Kulick, por exemplo. Mas hoje, quem disse adeus (ou voltou para o seu planeta de origem) foi Ace Frehley — um dos quatro originais, um dos guitarristas cujos trejeitos eu mais tentei (sem sucesso, obviamente) imitar ao longo dos anos, o cara com a gargalhada definitiva e o entrevistado que mais me deixou com o cu na mão antes de uma entrevista.

Sim, em 9 de setembro de 2020, eu entrevistei Ace Frehley. Estava tremendo da cabeça aos pés, torcendo para que nem meu nervosismo nem meu fanatismo ficassem tão evidentes no vídeo. O papo em si... não dá pra dizer que foi dos mais profundos, embora tenha sido algo divertido. A maior marca ficou no entrevistador, que pode afirmar, sem contornos utópicos, que, naquele dia, realizou um sonho trabalhando.

É muito esquisita essa sensação de perda e a tristeza que bate. “Como a gente pode nutrir tanto carinho por uma pessoa que nunca vimos na vida?”, suscitou um desses amigos que o Kiss me deu. Para essa pergunta do milhão não existe uma resposta — ou uma resposta apenas. Experimente os riffs de “Parasite” e “Strange Ways”, os solos de “Got to Choose” e “Shock Me”, ou até mesmo o humor involuntário da versão sem cortes do MTV Unplugged do Kiss, na qual Ace, com um figurino e tanto, demonstra tanta intimidade com o violão quanto eu demonstraria com um computador quântico. Leia a autobiografia “Não Me Arrependo”. Aventure-se na discografia do Kiss clássico e nos trabalhos solo de Ace, desde os mais badalados — Trouble Walkin’ é um excelente ponto de partida — até os pouco debatidos. E a tal gargalhada...

Quem sabe você encontre motivos para ser grato — e até reveja seus conceitos sobre medição de importância das coisas.

Obrigado, Ace.


Comentários

  1. Márcio "BOBAS" Brumquinta-feira, 16 outubro, 2025

    Peço licença para fazer minhas, tuas palavras!

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  2. Márcio "BOBAS" Brumquinta-feira, 16 outubro, 2025

    Peço licença para fazer minhas, tuas palavras!

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