RESENHA: Trapeze – Trapeze (Relançamento 2021)


Trapeze – “Trapeze”

Lançado originalmente em maio de 1970

Classic Metal Records / Voice Music / Rock Brigade Records – NAC. – 40min (CD 1) 55min (CD 2)


Embora hoje em dia seja mais celebrado como o trio de hard rock funkeado que logo se tornaria, no seu primeiro ano e meio de existência o Trapeze foi um quinteto cuja sonoridade incorporava vasta gama de influências que ia do pop ao prog, passando até pelo folk. 


O ano era 1968. Tony Perry, então diretor da agência de entretenimento britânica Astra resolve juntar os membros da banda Finders Keepers – Glenn Hughes (baixo e vocais), Mel Galley (guitarra e vocais) e Dave Holland (bateria) –, a qual agenciava, com a dupla Terry Rowley (teclados e flauta) e Johnny Jones (trompete e vocais) do grupo The Montanas, dando origem ao Trapeze. O nome foi ideia de Rowley, após Jones sugerir Trapezium como síntese para a sofisticação musical pretendida.


No histórico clube Lafayette de Wolverhampton, o quinteto se torna conhecido, atraindo convidados VIP como Robert Plant, John Bonham e Keith Moon a seus shows. Azeitada a máquina no palco, Perry decide que chegara a hora de descolar um contrato de gravação. Na fase dos cortejos e sondagens, o Trapeze chega a ser cotado pela CBS e pelo selo Apple, dos Beatles; o que não rolou após George Martin, célebre produtor do Fab Four, sugerir que Hughes e os outros deveriam assumir um direcionamento mais pop. Acabam assinando com a Threshold, recém-inaugurada pelos integrantes do Moody Blues.


Falando nos pioneiros do rock progressivo, foi John Lodge, seu baixista, quem abraçou a missão de produzir a estreia do Trapeze. Não obstante nunca ter produzido nenhum disco, Lodge soube conduzir os trabalhos. Obviamente, facilitou o fato de os cinco estarem muito bem-ensaiados e com cada nota do repertório na ponta da língua e dos dedos. As gravações se estenderam por cerca de duas semanas nos estúdios Morgan e Decca, ambos em Londres. 




Alguns aspectos deste primeiro álbum – sobretudo se o compararmos a “Medusa” (1970) e “You Are the Music – We’re Just the Band” (1972) – chamam a atenção. O primeiro refere-se às vozes. Não são poucas as vezes em que o vocal principal fica a cargo de Jones, detentor de um tradicional registro à Ray Davies (The Kinks), e não de Hughes, já um expert em interpretação. Ainda nesse âmbito, ouvem-se harmonias de até quatro vozes em músicas como “Over” (na qual o fraseado do baixo projeta-se um patamar acima da mix) e “Another Day”


Mas talvez o que mais destaque “Trapeze” de seus amplamente mais festejados sucessores seja a mistura de estilos, talvez resultado do processo de composição ao estilo “cada um por si” adotado. Sozinho, Hughes assina o pedido de desculpas em forma de balada “Nancy Gray” e “Am I”, cuja erudição forçada remete aos momentos de maior pretensão do Pink Floyd dos primórdios. 


Já a dupla Jones/Galley apresenta quatro números, entre os quais se destacam “It’s My Life” (sustentada por um ótimo refrão), “Suicide” (a mesma forma de “I Feel Free” do Cream é usada enquanto se acena para os Beatles pós-“Sgt. Pepper’s”) e a suíte “Fairytale / Verily Verily / Fairytale” cuja letra questiona a suposta autoridade de “professores que não sabem o que ensinam” e “religiosos que não sabem pelo que rezam” antes de propor uma resistência à doutrinação. 




Por fim, Rowley comparece com “Wings” (coassinada por Hughes e altamente influenciada pelo rock estadunidense) e “Send Me No More Letters”, escolhida para single embora não seja lá o momento mais inspirado. O disco termina como começa: reprisando a intro “It’s Only a Dream”.


Trazendo na capa uma reprodução de “A Tempestade” do pintor francês Pierre Auguste Cot e no encarte um aforismo do escritor americano Henry Van Dyke (“O tempo é demasiado devagar para os que esperam...”), “Trapeze” chegou às lojas em maio de 1970. Para dar um gás nas vendas e engordar o porquinho da Threshold, o Moody Blues levou o grupo para a estrada. O giro de nove datas pelo Reino Unido incluiu a primeira vez de Hughes sobre o palco do Royal Albert Hall. Mas a aclamação da crítica não repercutiu em números, tornando necessária a restruturação que tirou Rowley e Jones da jogada. 


Fechando a trinca de relançamentos do Trapeze no Brasil, a presente edição fruto da coligação Classic Metal Records / Voice Music / Rock Brigade Records inclui um CD bônus com 13 faixas, incluindo nada menos que quatro versões de “Send Me No More Letters”, demos (incluindo “Seafull”, de “Medusa”, em estágio embrionário) e a íntegra da apresentação no programa Colour Me Pop, de 1969, responsável por despertar o interesse das gravadoras naquele quinteto oriundo das Midlands que, sem saber, trazia em sua formação o cara que logo receberia o título de “A Voz do Rock”. 


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