ENTREVISTA: Rod Marenna e Alex Meister falam sobre o projeto Marenna-Meister


Um dos lançamentos de destaque do hard rock em 2020 é made in Brazil. Bem, pelo menos foi feito no Brasil e por músicos brasileiros, pois remonta totalmente ao hard rock estadunidense do final dos anos 80 / início dos anos 90, seja no estilo, seja na temática. Com mais de vinte anos de estrada cada, o vocalista Rod Marenna e o guitarrista Alex Meister (ex-Pleasure Maker) uniram forças e trouxeram à vida o Marenna-Meister. O disco de estreia da parceria, “Out of Reach”, foi lançado em setembro pelo selo dinamarquês Lions Pride Music. A exemplo das carreiras dos dois, a repercussão fora do país tem sido grande, o que explica o fato de o CD já estar esgotado no site da gravadora – as poucas cópias restantes estão à venda no site oficial da dupla. Conversei com Rod e Alex sobre o antes, o durante e o depois do álbum. Bora conferir? 


Transcrição: Leonardo Bondioli

Fotos: Divulgação


Marcelo Vieira: Na resenha do disco de vocês, eu escrevi o seguinte: “levando em conta o histórico dos envolvidos parecia questão de tempo até que uma parceria entre o vocalista Rod Marenna e o guitarrista Alex Meister se tornasse realidade. Os dois tem muita coisa em comum, mas principalmente o fato de terem seus talentos mais reconhecidos fora do Brasil do que dentro.” A partir disso, queria que vocês contassem como rolou essa parceria. Quem de vocês deu o primeiro passo nessa direção?

Alex Meister: Conheci o Marenna no programa da Rock Melodic Radio. A música era legal. Quando vi que era um cara do Brasil, mandei mensagem para ele no Facebook dando os parabéns. O tempo passou, a gente foi conversando. Aí chegou um dia, só para ter uma ideia, a gente teve a ideia de tentar compor juntos. Logo em seguida nasceu a “(There’s So) Many Things”

Rod Marenna: Foi muito natural mesmo. O Alex falou que estava a fim de fazer um trabalho diferente, de gravar singles com vocalistas diferentes. Eu falei que se ele precisasse de ajuda para compor, ou até mesmo para fazer uns vocais e tal, era só falar comigo. Eu não imaginava que fosse ser o vocalista principal. Inclusive, até sugeri para ele fazer algo tipo “Alex Meister featuring Rod Marenna”. 

AM: Aí eu ouvi esse cara cantando e pensei: “É ele! Ninguém vai fazer melhor que isso!” [Risos]


MV: Por conta do Pleasure Maker, a música do Alex ficou muito tempo associada àquela voz do tipo “ame ou odeie” do C. Marshall. Comparativamente, o Marenna-Meister é mais acessível, abrange um público maior. Vocês gravaram tudo de maneira remota?

RM: Sim. No caso, a produção e os arranjos foram todos feitos pelo Alex, com a gente trabalhando em conjunto de maneira remota.

AM: O trabalho de composição passou muito rápido, por que eu acho que sempre compus muito rápido e acho que o Marenna também. Então, o processo de composição levou dois meses no máximo.

RM: E o que é legal é que a gente se integrou muito bem, sabe? Um puxando o outro, ambos alinhados num contexto. Noventa e nove por cento das ideias convergia, o que foi um facilitador. Viemos da mesma escola, temos o mesmo gosto. O Alex conhece muitas bandas, tem um vocabulário musical enorme. Temos praticamente o mesmo tempo de carreira.


MV: O material promocional do disco fala assim: “Get ready to rock like the 80’s”. A missão do disco é promover esse “túnel do tempo”, digamos assim. Mas na playlist de vocês rolam outros estilos? 

AM: Curto heavy metal, pop oitentista. Só que a verdade é essa: gosto mesmo é do hard rock anos 80 e comecinho dos anos 90. Gosto disso desde aquela época e toco isso até hoje. Por mais que eu goste muito de AOR, esse caminho é uma coisa mais do Marenna; é natural dele já. Tive fases de curtir mais. O segundo álbum do Pleasure Maker, “Twisted Desire” (2008), tem teclado para cacete. 

MV: A exemplo de outros caras que entrevistei, como Wolf Hoffmann e Ross the Boss, vocês são partidários do “Nunca mais haverá uma década como os anos 80”?

AM: Sim! Uma década daquele jeito e com tantas caras, com cada banda seguindo seu caminho com personalidade... Trinta anos depois, ainda descubro bandas daquela época.


MV: Mas o hard rock não parou no tempo. Hoje em dia tem muita banda boa que não necessariamente faz um som retrô. 

AM: Gosto do pessoal que faz som retrô, igualzinho a como eu faço. O novo não me interessa! [Risos]

RM: Acredito que sempre vai haver música boa, independentemente do estilo. Acho que tem muita coisa boa por aí, com um pé nos anos 80, outro nos anos 90; composições muito ricas e que transpiram musicalidade. Mesmo não sendo o tipo de som que eu tocaria, compraria o CD e ouviria no carro. Som bom é aquele que você sente que é verdadeiro, sabe?


MV: Esse “Get ready to rock like the 80’s” se estende às letras, né? A proposta é pura e simplesmente diversão.

RM: Exatamente. Estamos dando 40 minutos para o ouvinte embarcar na viagem conosco.

AM: A vida já é muito cheia de problemas. Se você parar para pensar, nos dias de hoje, é só encheção de saco, politicamente correto... é tudo muito chato! Reclamam aqui, reclamam ali... cara, na boa, vamos nos divertir!

RM: Lacração é uma faca de dois gumes. Tem o cara que milita de verdade e tem o cara que está ali, pulando de galho em galho para ver o que vai acontecer, para tentar tirar vantagem de alguma coisa. Música para mim não é protesto. Nunca escrevi uma letra de protesto na minha vida. No Marenna, escrevo letras mais sérias, coloco o dedo na ferida e faço você entender que tudo tem mais de um lado. Gosto muito de trabalhar com a questão dos conflitos internos, da resiliência, do “hoje não deu, mas amanhã vai dar”. 


MV: E como rola a construção da música de vocês? Os dois partem de um título ou de um refrão e depois desenvolvem o contexto?

AM: Sempre parto do refrão, porque é o gancho da música. Não sou de escrever muita letra, não. Então, o que eu faço é pegar a ideia de um tema, desenvolver a partir do refrão e daí construir a música. Raramente pego um riff para chegar num refrão. Isso só aconteceu com uma música, “Dangerous Minds”. Todas as demais nasceram a partir do que seria o refrão. 

MV: O disco de vocês só saiu lá fora. Ok, o mercado consumidor de CDs no Brasil hoje em dia é um nicho. Ainda assim, vocês não acham que esse foco de vocês na gringa, ainda mais em tempos pandêmicos, pode ser meio prejudicial para vocês aqui em longo prazo? Pensem bem: não é toda loja especializada que vai importar o disco e não é todo mundo que vai poder pagar o preço de um CD importado.

AM: Todos os CDs do Pleasure Maker tiveram tiragens nacionais. Tentamos convencer a Lions Pride de fazer a mesma coisa, de permitir uma tiragem nacional. Só que como os CDs hoje têm uma vendagem menor, os caras querem que a única prensagem em todo o mundo seja a deles. Nós tínhamos a intenção de fazer os discos aqui, como eu sempre fiz. Mas eles vetaram isso. 

RM: É verdade. Ficamos meio que presos ao contrato. O problema é que foi tudo muito rápido; não tivemos tempo de procurar por outra gravadora. Depois que gravamos “Follow Me Up” e a primeira versão de “Many Things” e decidimos fazer um álbum, disparamos samples das músicas para várias gravadoras. No dia seguinte eles responderam já oferecendo o contrato. Não pensamos duas vezes. Era melhor assinar logo do que perder a oportunidade. 


MV: Além do mais, há outro agravante: o risco de a gravadora não fazer uma nova prensagem do álbum, que já esgotou. É meio foda isso, não? Afinal, o streaming não paga bem.

AM: Paga mal para cacete! É uma miséria! Sem dúvida que se tivéssemos feito o disco aqui no Brasil, poderíamos vender por um valor bem mais acessível. Mas estamos amarrados ao contrato. No futuro, quem sabe, nós façamos uma prensagem nacional, com faixa bônus... no momento, o contrato ainda está vigente; ou seja, nada de prensagem nacional. Mas pelo menos temos algumas quantidades limitadas do CD importado para vender para o público aqui do Brasil. 


MV: O disco foi lançado no meio da pandemia. Sem poder fazer shows, como vocês estão se virando para divulgar o trabalho?

AM: Nós tínhamos um show marcado para o dia 6 de novembro aqui no Rio. O problema é que, graças à pandemia, a casa fechou. Sem termos como olhar muito para a frente, sem saber o que viria a acontecer, a gente começou a pensar na divulgação um dia de cada vez. Nos preocupamos em divulgar o disco nas redes sociais, divulgar os clipes, fazer com que a gravadora fizesse sua parte... estamos planejando uma live, mas como eu moro no Rio e o Marenna mora no Rio Grande do Sul, as coisas não são assim tão simples. Sinceramente, já estamos pensando é no próximo disco.

MV: Então está confirmado um Marenna-Meister, parte dois?

AM: Sim! Teremos um Marenna-Meister II, com certeza!

RM: E será “on fire!” [Risos]

AM: A gente já decidiu que vai iniciar os trabalhos no segundo semestre de 2021 para fazer o lançamento em 2022. 


MV: Bem, até lá faltam uns seis meses ainda. Até lá, quais são os planos? 

RM: Alex e eu decidimos que de novembro a janeiro daríamos uma pausa [na divulgação] para eu poder divulgar meu trabalho solo, lançar mais algumas coisas que estão para ser lançadas e relançadas.

AM: Isso. Já eu vou lançar uma música que ia lançar ano passado; uma regravação de uma música do primeiro disco do Pleasure Maker. Falta só gravar os vocais. Mas não vou cantar como o C. Marshall cantava; não tenho nem voz para isso. Pretendo fazer isso ainda no primeiro semestre. A música vai sair no streaming e eu talvez faça um clipe para ela também, como fiz com [a regravação de] “Just Thinkin’ About U”.


MV: Para terminar, qual recado vocês gostariam de deixar para os leitores de MARCELOVIEIRAMUSIC?

AM: Agradeço a todo mundo que comprou o disco, que assistiu aos clipes e comentou, que está ouvindo nossas músicas no streaming e apoiando a gente. Vocês podem ter certeza de que o novo disco seguirá o mesmo caminho; uma atmosfera final dos anos 80 / início dos anos 90!

RM: É isso aí. Agradeço a todos que estão dando uma oportunidade para o nosso trabalho, ao pessoal da imprensa que resenha nossos álbuns, pessoas como você que abrem esse espaço para a gente. Tudo isso é muito importante para nós. Não é só sobre a música, mas, sim, sobre conectar as pessoas. E podem confiar que assim que terminarmos a divulgação deste primeiro álbum, começaremos a formatar o segundo, que será... matador! [Risos]

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